Nisa mantém “acesa” na memória o drama dos incêndios em 2003

O concelho de Nisa, que marca o limite entre o Distrito de Portalegre e o Distrito de Castelo Branco, foi dizimado por vários incêndios em 2003, tendo ardido cerca de 35 mil hectares daquele território, provocando as chamas elevados prejuízos materiais e a morte a dezenas de animais.

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  • Publicado: 2016-08-26 08:06
  • Autor: Diario Digital Castelo Branco/Lusa

O concelho de Nisa, que marca o limite entre o Distrito de Portalegre e o Distrito de Castelo Branco, foi dizimado por vários incêndios em 2003, tendo ardido cerca de 35 mil hectares daquele território, provocando as chamas elevados prejuízos materiais e a morte a dezenas de animais.

Entre os dias 31 de julho e 08 de agosto de 2003, aquela região, situada no distrito de Portalegre, foi afetada por vários incêndios que acabaram por acumular com outros vindos de outras regiões vizinhas, sendo a maioria provocada por trovoadas secas, um fenómeno da natureza que ninguém consegue controlar.

“Naquele período de tempo, Nisa foi fustigada por uma série de incêndios e o distrito de Portalegre acabou por ser vítima, do ponto de vista do reforço de meios, pelo facto de que, antes do distrito de Portalegre estar a arder, já estavam também a arder os distritos de Castelo Branco e Santarém”, recorda o comandante distrital de Portalegre de operações de socorro, Belo Costa.

Na altura dos acontecimentos, Gabriela Tsukamoto exercia o cargo de presidente da Câmara de Nisa e, ao recordar este período, não consegue esconder, emocionada, o momento “terrível” que viveu e que levou o Governo a declarar o estado de calamidade pública naquela região.

“Foi um momento terrível, nada que eu não pudesse de alguma forma prever face àquilo que eram as políticas de ordenamento em vigor. Vivi, acima de tudo, com terror devido à escassez de meios”, frisa.

A antiga autarca, eleita pela CDU, recorda que o desespero foi “muito grande”, houve casos de populações evacuadas, a vila de Nisa, por exemplo, ficou “cercada” pelas chamas e sem eletricidade, sublinhando, ainda, que morreram animais e que os prejuízos foram “muito avultados”.

“Esta é a história mais negra, não só de Nisa, como do próprio distrito. Este foi também o momento mais negro que vivi como autarca e munícipe”, diz.

Gabriela Tsukamoto relatou que durante os incêndios, a população da freguesia rural de Amieira do Tejo se refugiou no interior do seu castelo, uma vez que aquela aldeia apenas tem uma saída e as chamas cercaram por completo a localidade.

“Ouvi, por telefone, os gritos das pessoas quando fui informada pelo presidente da Junta de Freguesia de Amieira do Tejo sobre esta situação, e alertei de imediato o ministro da tutela para o que estava a acontecer”, recorda.

“Em Nisa, foram afetadas seis freguesias e isso gerou algum pânico que nos criou alguns problemas acrescidos, com a dispersão de meios com falsas informações. As pessoas alertavam que o fogo estava a chegar a uma casa e não estava lá nada, e isso gerou alguns problemas a que tivemos de nos habituar e aprender a gerir”, relembra por sua vez Belo Costa.

No entanto, segundo Belo Costa, que afirma que comandou na altura toda a situação com “sangue frio”, o “pior problema” que envolveu pessoas no decorrer dos incêndios em Nisa ocorreu no IP2, onde estiveram cerca de 40 carros retidos no meio do fogo.

“Neste caso houve mobilização por parte do INEM, com um helicóptero, eventualmente para evacuar pessoas, mas nós (bombeiros) conseguimos abrir uma frente na estrada e retirar as viaturas”, relata.

Gabriela Tsukamoto e Belo Costa concordam que “a força” das populações e de diversas entidades foram “decisivas” para dominar a situação, recordando, também, que na altura foi “extraordinariamente difícil” fazer frente ao fenómeno, uma vez que estava em curso uma “transformação profunda” nos serviços relacionados com a organização de combate aos incêndios.

“Recordo que tinha sido formado em maio o Serviço Nacional de Bombeiros e Proteção Civil e tinham sido extintos o Serviço Nacional de Bombeiros e o Serviço Nacional de Proteção Civil. Vivíamos uma fase muito precoce da instalação do novo serviço”, afirma Belo Costa.

Após esta catástrofe, Gabriela Tsukamoto lembra que os prejuízos provocados pelos incêndios foram avaliados em “cerca de 20 milhões de euros” e que a região foi “muito apoiada”, para que tudo voltasse à normalidade.

Apesar disso, ano após ano, quando chega a época mais crítica dos incêndios, Nisa vive com o “coração nas mãos”, e não esquece os momentos vividos naquele fatídico verão de 2003.

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