Desafios e oportunidades da descarbonização para Portugal e Europa

Produzimos uma quantidade absurda de dióxido de carbono devido à queima de combustíveis fósseis.

  • Opinião
  • Publicado: 2024-01-18 14:30
  • Por: Antero Carvalho

A energia é a pedra de toque de todo o problema climático, pois tudo que são ações humanas, criam necessidade de consumo energético: indústria, transportes, produção agrícola, mobilidade urbana, conforto, consumo humano e gestão de resíduos, etc. Tudo tem como peso, o consumo energético e neste caso, a tecnologia, que está na origem da sua produção. 

O custo da transição energética é alto. A Agência Internacional de Energia afirma que precisamos investir cerca de 4 triliões de dólares por ano em tecnologia de energia limpa na próxima década para alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Isso representa um valor considerável, mas a inação pode custar ainda mais, não apenas financeiramente, mas também em termos de danos ambientais, perda de biodiversidade e impactos na saúde humana. A questão, então, transcende o dinheiro; é uma questão de sobrevivência.

Sabemos que a totalidade das emissões de GEE para a atmosfera, atualmente, já representa mais de 51 mil milhões de toneladas anuais. Se estimarmos o custo de remoção de carbono em cerca de 100 a 200 euros por tonelada, podemos acabar com uma conta anual que é astronómica e representa mais do que 6% da economia mundial.

À medida que a Europa se debruça sobre o seu futuro ambiental, uma questão imperativa surge no horizonte político: como equilibrar eficientemente os custos e benefícios das tecnologias de remoção de carbono? Aqui, o conceito de 'Green Premium', ou Taxa Verde, revela-se como um instrumento eficiente, para as tomadas de decisões sustentáveis, permitindo-nos calcular os impactos de curto, médio e longo prazo, entre o custo de uma escolha que emite carbono e a sua alternativa verde.

É crucial que os governantes e os formuladores de políticas ambientais da Europa considerem seriamente o investimento em tecnologias de remoção de carbono, não apenas como uma despesa necessária, mas como um passo fundamental para salvaguardar o futuro. Enquanto debatemos sobre, como enfrentar os custos imediatos dessas tecnologias, devemos também prever com rigor, não só a redução desses custos que, a longo prazo, elas poderão ou não ter, como os impactos, na resolução do problema que a humanidade enfrenta.

A questão do custo das tecnologias de remoção de carbono é complexa. Na Europa, onde a consciência ambiental, até já está bastante clara na cultura política, o custo de implementar tais tecnologias é frequentemente visto sob uma luz intimidante, por parte da opinião pública, espartindo-se como senso comum. Isso por vezes inibe os políticos de ajustar decisões a partir de instrumentos já existentes, ou os que agora se começam a desenvolver, contrapondo as suas decisões, a favor das políticas mais populistas, mas por sua vez, menos sustentáveis. Contudo, o "Green Premium", esse custo adicional para opções mais sustentáveis, não é apenas uma etiqueta de preço, mas um investimento no capital natural e no bem-estar das gerações futuras.

A remoção de carbono, seja através de tecnologias emergentes como a Captura Direta do Ar (CDA) ou por meio de soluções baseadas na natureza (NBS - Nature-Based Solutions), como a reflorestação e preservação da floresta em pé, trazem consigo um potencial duplo: mitigar os efeitos já sentidos das alterações climáticas e proporcionar um ambiente mais saudável e resiliente. Além disso, o investimento em tecnologias verdes, suportado a partir do “Green Premium” pode ser um catalisador para a inovação, o crescimento económico e a criação de novos empregos, ajudando a economia europeia a reinventar-se para uma era pós-carbono.

A Europa, com a sua abordagem pioneira na legislação ambiental, está perante uma oportunidade única de liderar pelo exemplo. Com a implementação do Green Deal Europeu, a UE estabeleceu um plano ambicioso para alcançar a neutralidade climática até 2050. No entanto, para que este objetivo seja mais do que uma declaração de intenções, os custos das tecnologias de remoção de carbono devem ser vistos não como um obstáculo, mas como um trampolim para o progresso de uma economia mais verde, e ambientalmente sustentável.

Os "Green Premiums" são indicadores essenciais nessa trajetória. Eles ajudam a discernir o verdadeiro valor das alternativas sustentáveis, incentivando assim o investimento em tecnologias e práticas que, embora possam ter um custo inicial mais alto, oferecem retornos substanciais em termos de redução de emissões, para uma nova economia mais sustentável. É uma nova maneira de contabilizar que vai além do financeiro, incorporando custos ambientais e sociais no cálculo económico.

Os governantes e fazedores de políticas ambientais da Europa devem, portanto, reavaliar os planos de investimento e as suas políticas de desenvolvimento, a partir desta lupa e do conceito de custo, à luz do "Green Premium". Ações imediatas e decisivas são necessárias para financiar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias de remoção de carbono, assim como para estabelecer infraestruturas que possam implementar essas soluções em escala. Fiscalidade e taxas verdes, subsídios para energias renováveis, criação de mercados de carbono e biodiversidade, assim como incentivos para práticas de negócios e consumos sustentáveis, são apenas o começo. 

À medida que a UE procura afirmar-se como líder global em sustentabilidade, o papel da inovação e da adaptação tecnológica torna-se cada vez mais crucial. A Europa pode e deve ser um laboratório vivo para as tecnologias de remoção de carbono, demonstrando ao mundo que é possível integrar soluções ambientalmente sustentáveis na economia e na sociedade.

Mas não basta apenas investir em tecnologia, é necessário também fomentar uma cultura de sustentabilidade e responsabilidade ambiental entre cidadãos e empresas. A educação ambiental, aliada a políticas de incentivo à adoção de práticas sustentáveis, pode desempenhar um papel fundamental na mudança de comportamentos e na consciencialização sobre a importância da remoção de carbono para a saúde do planeta e do ser humano.

Além disso, a colaboração internacional é indispensável. A Europa, apesar do seu compromisso e liderança em questões do clima e sustentabilidade, não pode enfrentar sozinha o desafio global das mudanças climáticas. Parcerias estratégicas com outras nações, partilha de conhecimentos e tecnologias, na persecução dos objetivos climáticos globais, são essenciais para resultados efetivos e abrangentes.

O sucesso no processo de descarbonização e na transição para uma economia verde depende de uma abordagem equilibrada que considere tanto os aspetos económicos quanto os sociais e ambientais. A fatura do custo em desenvolvimento de tecnologias de remoção de carbono deve ser vista como um investimento, um meio de garantir um planeta saudável para as gerações futuras, enquanto se promove um crescimento económico sustentável, justo e inclusivo.

A Europa tem diante de si uma oportunidade única, mas também desafios enormes: liderar o caminho na descarbonização da sua economia e demonstrar que um futuro sustentável é não apenas possível, mas também economicamente viável e socialmente benéfico. Através do investimento em tecnologias de remoção de carbono, da promoção de uma cultura de sustentabilidade, da colaboração internacional e de uma abordagem equilibrada, a Europa pode pavimentar o caminho para um mundo mais verde e resiliente. Simultaneamente, colocando-se na liderança dessa nova economia verde e sustentável, sem a qual não haverá futuro, nem planeta, nem humanidade.

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