As sucessivas vagas de industrialização e o fenómeno da globalização, trouxeram uma enorme reconfiguração do mundo, das suas economias e da forma como se estabeleceu a relação: produção-consumo.
Foi a partir da década de 80 que os mais atentos, cedo perceberam que os direitos adquiridos pelos trabalhadores, nos mercados de primeiro mundo, iriam, em breve ficar em causa, fruto da pressão que a descentralização das indústrias para países de mão-de-obra barata, iria exigir.
Se até aí a indústria de produção intensiva, na velha europa e estados unidos da américa, garantiam a estabilidade das classes de trabalhadores que desde a sua infância, eram ensinados que se posicionados dentro dela, o seu futuro seria seguro e previsível, a partir do “arranque” dos subprodutos da globalização, no caso, da abertura de mercados, através maior facilidade da livre circulação de pessoas, matérias-primas, bens e serviços, rapidamente mostrou que esse futuro seguro, tranquilo e promissor, estava com os dias contados.
Há 30 anos atrás, seria improvável, antever a possibilidade do atual cenário, quando a maior força produtiva da indústria mundial, se encontrava nos países desenvolvidos e a mão-de-obra necessária para a fazer funcionar, era do domínio exclusivo desses países.
Mas desde sempre o modelo de crescimento mundial, é centrado no incentivo ao lucro, com isso, as dinâmicas de mercado procuram sempre ajustar-se de forma eficiente e eficaz, às propostas que apresentem melhores soluções, no caso, com mais e melhor produção, a mais baixo custo.
Além da liberalização e sofisticação dos sistemas e normas internacionais que facilitaram os fluxos de tudo o que é transacionável, trazidos pela globalização, outro fator determinante, contou para o enorme impacto nas economias mundiais, com a transferência de massivas quantidades de postos de trabalho dos mercados dos países desenvolvidos para os países em vias de desenvolvimento: O contexto tecnológico.
A tecnologia disponível nesse momento, para produzir esses bens e serviços, gerou um contexto favorável ao surgimento de políticas assentes no seu custo de produção, em quantidades massivas para atingir valores de produção/unidade baixos. Esta realidade, valorizava de forma significativa a procura de mão-de-obra barata, uma vez que a capacidade de produção se centrava no investimento em equipamentos, maquinarias e linhas de produção extremamente caras.
Foi nesta direção que a tecnologia tomou, que levou a que a produção em massa, dependesse mais dos custos dos equipamentos do que da capacidade das sociedades treinarem recursos humanos para operar tais tecnologias, tornando o fator dessa mão-de-obra qualificada, irrelevante, pois a tecnologia existente nas linhas de produção, substituíram as necessidades de grandes competências técnicas da mão-de-obra.
Este cenário foi resultado da adaptação, dos mercados, às tecnologias existentes no passado recente, e que melhor respondiam às necessidades de eficiência dos mercados, e isto resulta da máxima da economia que afirma que “os mercados tendem a encontrar e fazer prevalecer, sempre, as formas e soluções mais eficientes”, apenas isso.
Até aqui tudo certo. Unicamente nos escapou um detalhe importante, havia um custo desconsiderado durante muito tempo, demasiado tempo até. O impacto que esta forma de viver e fazer crescer as economias, estava a provocar no planeta. Estávamos a esquecer-nos de que exigir dos recursos naturais e do planeta, deve ser feito com contra, peso e medida, ou seja, de forma sustentável, caso contrário a própria natureza iria a presentar a conta e quanto mais tarde, mais cara ela seria para a humanidade.
Esta realidade, que surgiu há 3 ou 4 décadas, e foi consolidada na última, está a terminar. Devemos estar atentos, como deveríamos ter estado na década de 80, pois o que levou a indústria para mercados que ofereciam baixos custos da mão-de-obra, deixa agora de fazer sentido. Manter unidades de produção deslocalizadas dos centros de consumo, passa a ser uma desvantagem, pois a importância das produções sustentáveis, ecológica, social e economicamente, associados aos custos e competitividade, passa a centrar-se na proximidade com o consumidor.
Um novo paradigma tecnológico prepara uma revolução que aparentemente silenciosa, está mais do que latente, pois é já visível para todos os que olhem o estado do conhecimento científico atual, e o que ele permite balizar. Isso representa o surgimento de um novo padrão tecnológico que aplicado à indústria de bens e serviços, provocará uma nova vaga, levando ao regresso das unidades de produção para junto dos respetivos mercados consumidores.
O que torna isto possível e desejável?
Novamente o motivo que levou à vaga anterior, a procura pela eficiência dos mercados, agora ancorada na urgência da agenda das alterações climáticas e de uma necessária transição para uma economia mais verde e sustentável.
A partir desta realidade quem fica em apuros serão os países que não têm dimensão e sofisticação nos seus mercados de consumo, pois quanto mais sólido for o potencial de consumo, mais atrativo será transferir para aí as linhas de produção, porque estar junto dos potenciais consumidores, será um fator diferenciador importante, e por sua vez, nesta deslocação, ocorrerá a transferência dos postos de trabalho a si correspondentes.
Logicamente a humanidade demora algum tempo a perceber que aquilo que conhecemos por ciência, nos dita no futuro, aquilo que é possível construir em termos de soluções, para os problemas que temos, mas isso significa unicamente que o conhecimento científico consolidado, apenas baliza o que pode ser feito, nunca define de que maneira e com que efeitos iremos produzir as soluções que usando desse conhecimento, apresentam as funcionalidades que resolvem tais necessidades.
Essa função, de dirigir o futuro das tecnologias que usaremos e os seus efeitos, é atribuída à decisão das políticas de desenvolvimento económico, social e espera-se que, sustentável, porque a questão dos custos climáticos, estará sempre presente em qualquer agenda futura.
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