Conceitos sobre socialização

Os estudos sobre os processos de socialização tiveram o seu apogeu nos anos 70 e apesar de terem atravessado um período de menor relevância para as Ciências Sociais e Humanas, nos últimos anos, surgiu um novo interesse sobre este conceito, retornando com maior vigor e envolvendo novas abordagens  e metodologias.

  • Opinião
  • Publicado: 2022-05-27 14:48
  • Por: António José Alves Oliveira

A partir das várias correntes teóricas e dos mais recentes estudos no campo das Ciências Sociais, Abrantes (2011) define a socialização como um “processo de constituição dos indivíduos e das sociedades, através das interações, atividades e práticas sociais, regulado por emoções, relações de poder e projetos identitários-biográficos, numa dialética entre organismos biológicos e contextos socioculturais”. O processo de socialização ocorre durante toda a vida e com uma intensidade variável (Giddens, 1991), é uma aprendizagem informal e um compromisso entre as necessidades e os comportamentos dos indivíduos perante os  valores dos grupos sociais a que pertencem ou se relacional, constituindo uma forma individual de representação do mundo e um referencial de avaliação de como estes devem atuar em diferentes contextos sociais (Percheron, 1974). A socialização, no entender de Bourdieu (1983), assume a finalidade de atribuir uma significação às relações de poder, repetidamente desiguais,  que se estabelecem nos distintos contextos organizacionais e nas  formas de aceitação,  reprodução e perpetuação  de uma realidade social  preexistente. 

 Mas falar de socialização implica, imperativamente, abordar as teorias subjacentes à socialização da criança através da Psicologia e dos seus prolongamentos sociológicos. Embora Piaget (1965) seja uma referência neste domínio, os contributos de (Bruner, 1983;Daval, 1964;  Doise e Deschamps,1986; Erikson, 1950; Goslin, 1979) sobre os processos de socialização, não deixam de ser importantes para o entendimento do desenvolvimento da criança.  Piaget estabelece uma relação interdisciplinar entre a Biologia, a Psicologia e a Sociologia, assumindo uma posição em que a sociedade surge com um sistema de interações e ações que se modificam mutuamente perante leis de organização e equilibração. A socialização é entendida por Piaget, nas palavras de Dubar (1997), como um processo descontínuo de construção coletiva de condutas sociais. Este processo, no entender de Dubar (1997), é complementado com aspetos cognitivos, afetivos e expressivos, ou seja, a conduta nas dimensões estrutura, energia e significados, traduz-se, exprime-se e simboliza-se em regras, valores e signos (palavras, imagens, sons, entre outras representações).

Ainda Dubar (1997), os princípios gerais da socialização da criança na perspetiva de Piaget (1964), podem ser sintetizados de acordo com as seguintes transformações: do respeito aos pais, ao respeito pelos outros; da “obediência personalizada ao sentimento da regra”; da submissão absoluta a uma independência equivalente, manifestada  através de sentimentos de respeito, amizade, integridade e companheirismo; da energia à vontade, seguindo uma organização interna  entre obrigações e formas de satisfação. Na socialização ocorre uma coerência no funcionamento entre as estruturas mentais e sociais em cada estádio do desenvolvimento da criança, conferindo-lhe uma correspondência autónoma entre os  valores morais e as operações lógicas processadas pelo pensamento.

 No seguimento da perspetiva de Piaget e oposta à assumida por Durkheim, Percheron (1974) aborda a problemática da socialização a partir do conceito de código simbólico, adquirido pelo indivíduo através de transações com a sociedade, por processos de assimilação (melhoria do seu ambiente social e diminuição de fatores de ansiedade) e acomodação (transformação de si mesmo para responder às dificuldades encontradas no meio em que vive). Percheron (1974) transpõe esta problemática para o que denomina de socialização política. 

Deste modo, a socialização é um processo interativo e multidirecional de transação entre as necessidades do individuo e os valores do grupo a que pertence; a socialização é uma representação de mundos especializados, tendo para base imagens e sistemas de respostas automáticas, que este reinterpretam e constroem à  medida dos seus desejos. A  socialização latente é o resultado,  não da aprendizagem formal, mas de influências múltiplas, impessoais e com intencionalidade, que permite fortalecer o papel do ensino e dos valores transmitidos pela sociedade.

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