A questão da construção da identidade dos professores tem vindo a ser relançada com relativa frequência, como matéria de estudo por parte de académicos de renome nacional e internacional, em consequência das sucessivas pressões a que os professores estão a ser sujeitos no contexto da globalização e das crises que assolam as sociedades contemporâneas.
O estudo desta temática tem serviço para retirar os professores do anonimato a que foram votados nas últimas décadas e para contrapor o esforço manipulado dos meios de comunicação social, com o objetivo de alimentar a ideia de que a escola não tem qualidade e utilidade para a sociedade contemporânea.
A este propósito, Flores (2014, p.853) refere que as várias mudanças no panorama social, político e cultural afetam os professores, sujeitando-os a dúvidas sobre a sua competência e autoridade, implícitas nas alterações no seu estatuto profissional, no seu processo de avaliação, nas reformas curriculares, nos modelos de gestão das escolas, à pressão da avaliação externa com “ repercussões no modo de ser e de estar no ensino”. Ora, é neste contexto de mudança constante do estatuto social e da organização do seu trabalho, que os professores sofrem influências que afetam as suas características individuais e o seu grupo profissional e como consequência, a necessidade permanente de construir novas identidades. Neste sentido, Moita (2013) apresenta a noção de identidade como um sistema múltiplo e diversificado de identidades, no qual os indivíduos têm uma perceção, uma consciência e uma definição de si mesmos. Portanto, a identidade é um conceito polissémico e de âmbito pluridisciplinar, em que se procura entender o papel e a eficácia de cada individuo no funcionamento do seu grupo de referência (Medeiro, 2002).
Como sustentam Cardoso, Batista e Graça (2016), a construção da identidade é um processo complexo e interativo de sentidos e engloba as dimensões individuais, ou seja, a personalidade dos indivíduos e a dimensão coletiva, que remete para a ideia de identidade num âmbito de caráter grupal, que no caso dos professores, refere-se aos saberes e comportamentos. Estas duas dimensões apresentam uma forte interdependência, baseada no reconhecimento do coletivo e na capacidade de intervenção do individual.
Fernandes (2015) distingue o conceito de identidade pessoal à luz da Filosofia de Paul Ricoeur e da Sociologia na perspetiva de Anthony Giddens. Para o pensador francês a identidade pessoal é “algo que mantém uma continuidade temporal entre a dialética entre ser-se o mesmo ou ser-se diferente (capaz de mudança)”. Na opinião de Giddens, a identidade pessoal “é o produto de uma relação criativa com o contexto em que o indivíduo se encontra, rejeitando a hipótese de uma identidade pessoal fixa ou imutável” (p.19).
No âmbito da identidade social, segundo Dubar (1997), esta é (re)construída por cada geração, seguindo as suas próprias estratégias identitárias e instrumentos herdados da geração precedente ou com instrumentos que adquirem nas instituições que frequentam ou deixam a sua marca. A identidade, no caso dos professores, resulta de um processo biográfico singular, que ocorre durante a formação inicial e no processo de socialização no exercício da sua profissão. Por isso, as suas histórias de vida são ricas em experiências familiares, sociais, escolares e profissionais.
Apesar da abundância de definições de identidade profissional, Fitzgerald (2020) refere que esta inclui a capacidade de desempenhar as funções de uma profissão; o conhecimento evidenciado pela educação e/ou certificação; a identificação com uma comunidade de prática e com os valores e ética da profissão; a identificação pessoal como profissional dentro de um grupo profissional identificado. Para esta autora, existem outros fatores que contribuem positivamente para a construção da identidade profissional, nomeadamente, o ambiente social em que os indivíduos estão inseridos e a formação interdisciplinar, no sentido dos profissionais poderem compreender melhor a sua profissão e os outros com quem trabalham, beneficiando, desta forma, o seu autoconceito e autoestima no seio do seu grupo profissional. Este conceito também é entendido como um processo de envolvimento, que pode ocorrer antes ou durante a formação para a profissão, sendo favorável quando os indivíduos sentem apoio das intuições formadoras, demonstrando maior empenho, esforço e consequente sucesso. Contudo, as discrepâncias entre as expetativas e a realidade da formação (teoria versus prática), podem pôr em causa a estabilidade da identidade profissional de cada indivíduo e provocar crises ou ruturas, por vezes, irreversíveis.
Deste modo, o trabalho, como agente de socialização, constitui-se como o elemento nuclear na construção das identidades sociais e profissionais. Por outro lado, o contexto laboral faculta a cada individuo a possibilidade de promover as suas ambições de realização pessoal e profissional, estabelecendo relações afetivas e experiências (selecionadas) durante a interação com aqueles que podem contribuir para a assimilação das normas de desempenho, de comportamento e de resistência ou de superação perante as exigências das hierarquias de poder existentes da organização onde trabalham (Fialho, 2017).
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