Compreender, o quê e quem, está por detrás do verdadeiro conflito na Ucrânia, assim como, os incompreensíveis adiamentos e insucessos da agenda climática, definida a partir do Acordo de Paris, quais as motivações e verdadeiros atores, é revisitar a verdade que, se ocultou à opinião pública, no que ficou conhecido, em Portugal, como o 25 de novembro de 1975.
O modus operandi é o mesmo, somaram-se alguns “interessados” e alguns “interesses”, pois a agenda deixou de ser combater o perigo que, na época, se apresentava através dos desejos expansionistas do novo imperialismo russo do século XX, trasvestido de um suposto idealismo, numa mensagem destinada a satisfazer os desejos de um proletariado europeu ocidental, a que se lhe chamou até aos dias atuais – comunismo.
Hoje, os interesses a defender, chamam-se: derrotar o perigo que é a agenda climática e as políticas desta que atacam de forma direta dois dos grandes interesses do poder mundial, através das matrizes que movem o mundo – energia e alimentação, entenda-se, combustíveis fósseis e produção agrícola intensiva. Mas vamos revisitar o passado para entender o presente e vislumbrar o que o futuro nos pode reservar.
A HISTÓRIA CONHECIDA
“O golpe de 25 de Novembro de 1975 foi uma tentativa de golpe militar conduzido por uma fação das forças armadas, apoiadas pelo o PCP, com o objectivo de uma ditadura do proletariado, cujo fracasso resultou no fim do Processo Revolucionário em Curso, instaurando em Portugal uma democracia baseada numa economia de mercado, em vez da democracia direta de economia planificada pretendida pelos setores da esquerda radical.” Fonte Wikipédia
A HISTÓRIA DESCONHECIDA
Num cenário de fragilidade, em contexto de uma enormíssima instabilidade política, social e económica, aquilo que ficou conhecido por 25 de novembro de 75, vinha-se a “fabricar” pelas partes que influenciavam, de fato, os resultados do que veio a ser e do que poderia ter sido o futuro do Portugal, pós-ditadura do antigo regime. Refiro-me às duas potências que na época se batiam pelo controlo do mundo, no caso da europa, recorde-se, estava dividida entre o bloco soviético e o bloco democrático, resultante do pós-segunda guerra mundial.
Nos bastidores do partido comunista português, usando-se da figura do então seu dirigente Álvaro Cunhal, estava a União Soviética que queria instalar, a partir de Portugal, posteriormente Espanha e Itália, uma frente que pressionasse os restantes países que ainda salvaguardavam a democracia, para uma expansão, além dos seus territórios, do idealismo comunista e assim chegar à governação, nesses países, levando a cabo, um plano expansionista do ideal soviético a grande parte da europa, então, muito dividida e fragilizada, principalmente, os países de sul.
No verão de 1975, havia planos, por parte da União Soviética, para patrocinar, o golpe que viria a ser apenas levado a cabo por forças militares nacionais da fação e orientação do PCP, sem o apoio e intervenção, da então URSS. Esta informação era do conhecimento da maioria dos serviços secretos de todos os países e dos seus chefes de estado, onde se incluíam evidentemente os norte americanos.
Com o objetivo concreto, de vir a usar Portugal como um exemplo ao mundo democrático, do que poderiam ser, os perigos de ter partidos comunistas fortemente ligados ao bloco da URSS, os norte americanos, planeavam deixar que Portugal se tornasse no modelo pró-soviético no Ocidente da Europa que os comunistas de então tanto sonhavam ver instalado a Este. Com esse evento, os aliados pretendiam, usá-lo como bandeira e assim, criar um exemplo do que poderia ocorrer em situações homólogas, fazendo com que as populações refreassem os apoios civis a partidos comunistas ligados à então URSS e aos seus interesses expansionistas.
Mário Soares, tinha sido até março desse mesmo ano ministro dos negócios estrangeiros e o professor Hernâni Lopes, era embaixador de Portugal em Bona, na época, República Federal da Alemanha. Foi numa reunião de última hora, em Bona, onde estiveram presentes, o embaixador e o nosso ex-ministro, junto com o governo da RF da Alemanha, onde se conseguiu convencer os Alemães de Ocidente, de que deixar levar a cabo a intervenção de um golpe comunista em Portugal, afetaria toda a europa democrática e colocaria em risco a sobrevivência e estabilidade da própria RFA como democracia.
Foi após uma longa e dramática noite de conversações, primeiro entre estes dois signatários de Portugal com os Alemães de Ocidente e mais tarde com os restantes aliados que convenceram os norte americanos, a iniciar as diligências de forma a “negar” à URSS a intervenção, direta ou indireta, na participação, do golpe em preparação.
Assim, os movimentos que conhecemos das tropas e a história que se conta, precisa que venha à luz do dia, o desenvolvimento que antecedeu e precedeu, nos bastidores do poder mundial, a nossa história que culminou com o que conhecemos como 25 de novembro de 1975, através do, aí sim, ato isolado, de iniciativa interna, comandado pelo PCP.
Caso estes dois homens (Mario Soares e *Hernâni Lopes) não tivessem planeado e executado este plano, hoje Portugal teria outra história para contar e talvez até, a Europa e o mundo seriam diferentes, pois o que estava em causa, transcendia a instalação do modelo comunista da URSS em Portugal.
Atualizando o cenário do palco, os atores e os seus atos.
Para perceber as semelhanças e entender que os donos do mundo, permanecem lá nas suas cadeiras, que os problemas do mundo, continuam a existir e a afetar os mesmos de sempre e que, os culpados, paradoxalmente, continuam a ser os que mais sofrem, pois permitem que se lhes venda uma verdade distorcida, por ela, pagando uma fatura pesada, será necessário fazer algumas perguntas, para com as respostas, a estas, conseguirmos ver as semelhanças com o passado e identificar quais os repetentes e quais os novos atores nesta nova encenação. Assim, devemos perguntar-nos:
Onde se encontram as maiores economias consumidoras e produtoras de combustíveis fósseis - gás e petróleo - onde estão as produções industriais e agrícolas intensivas. Quais as economias que mais sairiam prejudicadas se se alterasse paradigmaticamente a matriz energética da indústria e da produção. Quem ganharia com essa nova configuração, para onde tenderia a vantagem competitiva de uma nova realidade, a partir de uma matriz de produção energética, assente em indústrias totalmente descarbonizadas e numa agricultura baseada em modelos mais sustentáveis ambientalmente – que mundo seria esse?
Segundo dados consolidados de 2021, recolhidos no Observatório do Setor do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), entre os dez maiores países, **consumidores e **produtores, destas duas fontes energéticas, nas primeiras posições, sempre os mesmos – Estados Unidos da América, China e Rússia. Analisada a produção e consumo agrícola, a matriz repete-se, aqui surgindo como produtores destacados, o Brasil e a India, outsiders de todo este jogo de poder, onde se movem, aqui também a par, estes três países.
**https://www.ibp.org.br/observatorio-do-setor/snapshots/maiores-consumidores-de-petroleo-e-lgn-em-2020/
O crescimento exponencial da população mundial e o aumento da esperança de vida dessa mesma população, são consequências de diversos fatores, mas existe uma forte relação da velocidade a que se deu, com a matriz de desenvolvimento que teve lugar a partir da chamada revolução industrial. Dentro desta, a forma como produzimos e consumimos recursos, tornou-se, na origem do problema com que nos deparamos na atualidade.
Oito bilhões de seres humanos, seriam perfeitamente comportáveis para o planeta e para os seus recursos naturais, se tivéssemos uma matriz de produção e consumo, mais próxima da forma como funciona a natureza e a dinâmica dos ecossistemas, nos seus ciclos de reposição. No entanto, fazemo-lo de forma contra-natura, ou seja, numa matriz linear.
Para tal, extraímos recursos naturais, produzindo e transformando, para responder às necessidades de consumo humano, de seguida, descartamos tudo o que nos sobra. Desse comportamento desajustado à capacidade homeostática do planeta, resulta insustentável, albergar tantos seres humanos, por muito mais tempo, sem que se produzam resultados catastróficos para a condição do planeta em suportar vida, como a conhecemos.
Negando-nos seguir um padrão concordante com os modelos circulares de toda a natureza, o homem declarou desde essa data também, o fim da vida em harmonia com o planeta, infelizmente o tempo cronológico dos seus efeitos, são incompatíveis com a tempo de aceitação cognitiva da consciência humana, levando-nos sempre a desvalorizar ou até negar causas que não tenham consequências imediatas.
À medida que o crescimento da população mundial ocorre, de forma acentuada, em consequência da atual matriz de produção e consumo, aumenta a procura por recursos que passam a ser escassos, e por isso, altera-se a importância que esses mesmos recursos tinham no passado, levando a que “as lutas” geopolíticas passem a ter lugar em função dessa nova agenda.
Uma vez que não se prevê que os comportamentos se alterem, as potências económicas, políticas e militares procuram ajustar-se a esse futuro inevitável e para esse ajustamento, surgem nos corredores do poder mundial, os “movimentos” que definem os destinos de todos nós, resultando em acontecimentos, nem sempre compreensíveis pelo senso comum.
Há vinte cinco anos escrevi sobre a transferência de conhecimento e deslocalização da indústria para países como a China, India, etc.. Descrevi os efeitos colaterais que esses movimentos iriam provocar e as consequências do aumento das desigualdades, além da óbvia alteração do xadrez do poder das economias. Como exemplo, para a europa, apontava para os problemas que enfrentaríamos, atualmente, expressos na dependência de setores chave para a segurança e bem-estar - indústria, agro-pecuária e energia.
Hoje, e gostaria de estar errado, vejo um mundo e uma humanidade que daqui a menos de vinte cinco anos se digladiará, em guerras por territórios potencialmente férteis em recursos como são - alimentos, água e fontes de energia limpa.
Contudo, só estaremos nessa situação, porque antes, e quando ainda a tempo, nos negamos a alterar em substância os comportamentos que iriam gerar tal catástrofe humana. Quando a humanidade for colocada diante deste cenário, como um fato consumado, quem terá de enfrentar as dificuldades e sobreviver nelas, não serão os responsáveis diretos pela falta de coragem, de hoje, enfrentar o problema, mas sim essas gerações futuras.
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*Nota do autor:
Contada, na primeira pessoa, pelo professor Hernâni Lopes, numa aula, ao grupo de alunos, do Programa Avançado de Gestão para Executivos (PAGE) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em 2006.
Esta é uma homenagem ao saudoso professor Hernâni Lopes, estadista e ser humano que pelas suas enormes qualidades de humildade, integridade e honestidade, nunca colocou, à frente, interesses pessoais e protagonismo, em detrimento do próximo e principalmente, do seu país, mesmo correndo o risco de ser interpretado erroneamente, e/ou os seus feitos, virem a ser, aquilo que vieram a ser, atos anónimos e abnegados, realizados em prol do bem comum dos seus concidadãos.
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