Cheias. Algo com que teremos de conviver, passando a fazer parte das rotinas de inverno. Tal como são, os hábitos nas tradições do Natal; no montar das árvores, no ritual das ceias e na própria rotina em torno da lenda do pai Natal, também aqui, teremos de habituar-nos a ter de viver com elas. Acredite-se nelas ou não, são bem reais, estão cá e vieram para ficar.
A luta contra as alterações climáticas, passa, em primeiro lugar, por combater os fenómenos de negacionismo e desinformação. Para isso, é fundamental criar condições para surgirem sistemas de informação capazes de traduzir os dados científicos, em linguagem comum, assim como recolher e apresentar informações credíveis para caracterizar, quem é o quê em todo este processo. A participação coletiva, é essencial nesta batalha, por isso para vencê-la, precisamos mudar de forma paradigmática os comportamentos. Isso apenas pode ocorrer através da alteração voluntária desses comportamentos, para tal, coletivamente, precisamos entender, para aceitar envolvermo-nos no seu combate.
O que tem ocorrido, é precisamente o contrário, tem-se tentado sensibilizar a opinião pública, usando abordagens que não conseguem traduzir essa informação, para assim, esclarecer. Esta informação, pouco clara, deixa lugar, à contestação, mesmo que sem qualquer fundamento científico, por aqueles que tendem ao negacionismo, levando a confundir a opinião púbica sobre de que lado está a verdade dos fatos e assim produzindo a incerteza que leva à inoperância coletiva a que assistimos.
Sendo os eventos climáticos, processos de causa-consequência, diferidos no tempo e normalmente, num muito longo prazo, a aceitação entre os fenómenos a que temos vindo a assistir, cada vez com mais frequência e a sua relação com os desequilíbrios que a ciência afirma, estarem a ser provocados pelos comportamentos humanos dos últimos séculos, torna-se ainda mais difícil de entender e aceitar, pelo senso-comum.
Esta relação entre a causa-consequência no clima, ou seja, o período que vai da ação até que se consegue verificar o seu efeito, transcende cronologicamente o tempo de vida de um ser humano, portanto, tornando ainda mais difícil entender, por ser algo que não cabe no tempo de constatação da experiência individual. Se não bastasse, fenómenos extremos têm existido, desde que há memória, embora ocorram, cada vez com maior frequência e intensidade, o fato de haver memória deles, como eventos já ocorridos no passado, leva à tendência para desvalorizar as alterações dos seus padrões, e claro, à sua não aceitação.
Estes dois fatos, criam condições para a existência de teorias perigosas e contraditórias, aos dados científicos consolidados, mas que por serem mais fáceis de entender, tornam-se uma resposta apetecível, para o confronto da própria consciência humana, na procura pela verdade. Neste caso, como consequência, levando a que um número significativo de cidadãos, neguem, também eles, a sua existência. Combater as alterações climáticas, exige sermos capazes de unir a maioria, em torno da certeza que elas existem e que é urgente combatê-las. Para tal, é necessário criar condições para termos sistemas de informação que mostrem de forma clara e prática: onde, como, quando, quanto e quem.
Quer para a ação de mitigação dos seus efeitos, ou seja, para criar sistemas de prevenção e resiliência para enfrentá-los, quer para a ação de descarbonização, ou seja, para a redução das emissões que contribuem para o aquecimento global, evitando assim que no futuro, os fenómenos se intensifiquem ainda mais, e que paulatinamente, os eventos climáticos extremos que teremos de enfrentar, se invertam, é prioritário adaptar um obsoleto quadro legislativo, sistemas operacionais e infraestruturas para que se assegure, às sociedades, a adaptação a esta nova realidade. Simultaneamente, é fundamental, todos estarmos conscientes do problema, da sua dimensão, gravidade e consequências, sem a qual, nenhuma política, medida ou intervenção, per si, terá o efeito desejado, face à urgência e abrangência necessárias.
O poder político é, em última análise, o principal culpado, por este falhanço a que temos assistido. Apenas ele poderá inverter este processo, fazendo com que a opinião pública, se torne bem informada e por sua vez consciente, para assim, a maioria dos cidadãos, se envolverem de forma ativa. Sistemas de informação que levem a essa consciência coletiva, são urgentes e fundamentais para a disseminação dessas alterações nos comportamentos, criando uma maior preparação para agir e resistir. Negar este fato e não promover a sua implementação, significa, deixar o problema em “lume brando”, até ao dia em que as consequências se tornem demasiado graves e ingeríveis.
Este cenário, de inoperância das políticas, na consciencialização da opinião pública, faz lembrar a rã, que ao ser colocada numa panela com água tépida, se sente confortável e aí permanece, enquanto a água continua a ser aquecida lentamente, tão lentamente que a própria rã, se vai habituando à ligeira subida da temperatura, sem se dar conta do perigo que corre, até ao ponto em que, cai em sonolência, perde os sentidos e termina tranquilamente cozida.
A rã só não reagiu, evitando a sua própria morte, pela falta de condições que impedissem a circunstância que levou a tal fato. Sabemos que se a rã tivesse tido condições para se dar conta do que estava a ocorrer e quais as consequências, certamente, teria tido outro destino. As condições, para nos darmos conta, a que os responsáveis pelas políticas climáticas, nos permitam aceder hoje, ditará o nosso presente e futuro.
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