O Governo do (…) retirou da sociedade e da Escola, qualquer resquício de respeito pela profissão docente, denegrindo sistematicamente a imagem dos professores, atacando-os e enxovalhando-os na praça pública e com prazer sádico”.
(Castilho, 2015,p.102)
A mudança para uma escola de massas, obrigatória, multicultural e democrática, tornou a indisciplina numa questão de difícil resolução, considerando a multiplicidade das vivências, dos valores e das atitudes dos alunos perante a vida e a cultura escolar. Num país onde o professorado é sinónimo de lixo, a indisciplina tende a ser um fenómeno de crescimento imparável. Neste cenário, a classe política portuguesa tem-se posicionado perante este dilema adotando uma postura de “mãos nos bolsos e a assobiar para o lado”, agindo numa ignorância colossal, só justificável pela máquina de propaganda que tem ao seu dispor.
Cada vez mais os alunos tomam consciência dos seus direitos e tendem a exercê-los na dinâmica da partilha de poderes, a qual assume um acentuado desequilíbrio para o professor, levando a “culpabilidade que este sente por não ser capaz de gerir equilibradamente a disciplina na sua sala de aula a criar angústias e ansiedades geradoras de uma autoimagem de incompetência e frustração”(Sanches, 1996, p.63).
A indisciplina nas salas de aula portuguesas aumenta na proporcionalidade do envelhecimento da classe docente, ao contrário do que acontece na maioria dos países ocidentais (CNE,2016). Embora a realidade atual seja muito mais grave, este facto tem contribuído para danos irreparáveis nos professores, tal como já apontava o estudo do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (2012), ao concluir que metade dos docentes sofria de problemas de saúde mental (depressão, ansiedade, esgotamento ou outros). Também o Relatório da OCDE (2016) coloca os alunos das escolas portuguesas entre os mais indisciplinados no contexto europeu, aspeto que afeta o tempo disponível para a aprendizagem, com consequências nos resultados escolares a nível nacional e nas provas internacionais de literacia.
Muito se tem escrito sobre possíveis soluções pedagógicas para conter este fluxo disruptivo, que afeta as nossas escolas. A titulo de exemplo, Sanches (1996) entende que a abordagem aos problemas da indisciplina deve ser realizada através da adequação das estratégias utilizadas na sala de aula, de acordo com a personalidade do professor e as características da turma. A resposta passa, então: pelo equilíbrio entre as suas características pessoais e profissionais, ou seja, a demonstração da disponibilidade do professor para o ato pedagógico; a planificação prévia dos conteúdos a lecionar; uma atenção redobrada às situações de comportamentos desviantes; a recetividade das propostas apresentadas aos alunos e uma relação pedagógica baseada no respeito e na responsabilidade. Por sua vez, Morgado (2004) afirma que a um nível micro, a criação de um clima social estável, estimulante e positivo na sala de aula, pode tornar-se favorável ao bem estar físico e psicológico dos professores, já que os aspetos das emoções, das relações interpessoais, da confiança e da aceitação mútua afetam a qualidade da sua ação educativa. Nesta linha de pensamento, Curto (1998) refere que a formação inicial e contínua pode dotar os professores de um quadro referencial, que contribua para a melhoria das suas práticas disciplinares, através de conexões com a comunidade educativa e a uniformização preventiva dos processos e dos objetivos pelos quais se rege a Educação.
Mas perante a radicalização das transformações sociais que moldaram o nosso país na última década, apesar de útil, parece-me que utilizar o saber livresco no campo de batalha, não irá, com toda a certeza, dar-nos garantias de vitória nesta guerra da indisciplina…
Referências Bibliográficas:
Castilho, S. (2015). Inquietem-se! Edições Pedago, Lda.
Curto, P. (1998). A Escola e a Indisciplina. Porto Editora.
Morgado, J. C. (2004). Qualidade na Educação: Um desafio para os Professores. Editorial Presença.
Sanches, I. (1996). Necessidades Educativas Especiais e Apoios e Complementos Educativos no quotidiano do professor. Porto Editora.
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