Numa época em que se fala muito nos desafios da educação, no que internamente, em Portugal, se refere a temas como são; gestão de carreiras, melhoria das condições de trabalho de pessoal docente e não docente, entre outros temas em agenda nas reivindicações que têm marcado a nossa atualidade social.
Não desvalorizando o assunto, gostaria, no entanto, de refletir sobre os outros desafios que a educação enfrenta.
Sempre existiram inúmeros debates sobre as metodologias pedagógicas e outros tantos sobre novas propostas para trazer à educação uma maior e melhor capacidade desta se adequar à nova realidade e necessidades que o ser humano no presente e futuro, enfrenta e enfrentará.
Penso ser aceite pela maioria que os atuais modelos de ensino não respondem à formação adequada para os novos desafios, onde o fator incerteza do que será pedido ao ser humano enquanto cidadão e profissional, é a única garantia que podemos ter. Desta forma, todas as propostas de modelos a partir dos quais devemos repensar a educação, devem assentar em premissas concretas e válidas para dotar o ser humano de características que permanecerão, seja qual for o cenário que de futuro terá de enfrentar.
Desenvolvimento de capacidades, como são; o autoconhecimento, formação permanente, competência critica, criativa e maiores níveis de resiliência à mudança, serão chave para a constituição de um novo tipo de cidadão e profissional que responderá de forma mais adequada a quaisquer que sejam as necessidades futuras do ser humano. Neste sentido, muitas têm sido as novas propostas que aliando a pedagogia, a uma nova e disruptiva realidade impactada pelas novas tecnologias, têm surgido pelo mundo.
Melhorar a educação pressupõe trabalhar com os atuais modelos e a partir deles construir novas soluções. Um dos erros que a maioria, das novas abordagens, tem cometido, tem sido o tentar romper completamente com os atuais modelos, isso tem impossibilitado que sejam exequíveis, dentro dos atuais cenários educativos, uma vez que estas propostas não criam pontes que permitam uma fase transitória que possibilite a sua adaptação.
As soluções que se possam querer afirmar como propostas viáveis para trazer uma transformação futura aos atuais modelos educativos, precisam ter uma visão disruptiva de longo prazo, uma visão de ponte de médio prazo e no curto prazo, precisam resolver problemas imediatos que melhorem os resultados, mas usando os atuais modelos.
Quando se fala em resolver, inclui-se também neste pressuposto, o nivelamento da qualidade do acesso à educação, entre classes sociais e entre países de 1º, 2º e 3º mundos. Assim, qualquer que seja a solução, deve existir nela uma resposta a esta dimensão. Seja qual for a estratégia dessa proposta, deve considerar este, como um objectivo a mitigar, propondo-se como solução viável e capaz, assegurando que o seu acesso, inclua os diferentes contextos desfavorecidos até aqui.
Para que este pressuposto seja parte integrante da solução numa nova proposta educativa inclusiva, local e globalmente, contribuirá certamente o fator de democratização tecnológica e das infraestruturas de comunicação, nas classes sociais mais desfavorecidas e nos ditos países pobres. Aqui com especial atenção nos equipamentos (hardware, exemplo; facilidade de acesso a terminais móveis) e as infraestruturas (energia e comunicação/internet).
Acredita-se que atualmente o conjunto de projetos tecnológicos que estão a ser levados a cabo, possibilitarão, a médio prazo, um acesso universal a equipamentos móveis de baixo custo, nestes territórios e um acesso de internet de banda larga de alta qualidade em qualquer região do globo. Ficará o sucesso desse acesso universal; a classes sociais, países e regiões ricas e pobres, dependente unicamente das questões políticas e financeiras, estando para isso a tecnologia, a cumprir o papel que lhe é exigido.
Mas para a resolução do problema, devemos trazer todos os fatores que influenciam e afetam diretamente os resultados quando o objetivo é criar um futuro coletivo com melhores cidadãos e profissionais, por conseguinte, com sociedades mais adaptadas aos tempos que vivemos e aos que enfrentaremos, onde, simultaneamente, essas soluções sejam sustentáveis e inclusivas, respondendo como mecanismos niveladores das desigualdades, na persecução de uma “melhor educação para todos”.
No processo de aprendizagem das diferentes competências humanas, pesam diferentes fatores. Alguns deles, relacionam-se com o comportamento da fisiologia do cérebro no processo de aprendizagem, ou se preferirmos, de aquisição de competências. Por exemplo, quando se compara o cérebro de alguém que aprendeu a ler em criança com alguém que aprendeu já em idade adulta, a anatomia e perfil dos registos, quer na quantidade de neurónios usados, quer nas regiões ativadas para desempenhar essa função de decodificação, é muito maior naquele que aprendeu a ler já em adulto, significando isto que o esforço para desempenhar a mesma função, é maior.
Daqui pode-se concluir que o processo de aquisição de competências cognitivas, tem etapas e idades ideais e quando não se realizam nessas fases, condicionam, o resultado do potencial alcançado. É cientificamente inquestionável que existem idades e etapas mais adequadas, físico e neurologicamente falando, para que se consigam resultados optimizados no processo de desenvolvimento cognitivo, o que significa que é dentro desses momentos que os modelos pedagógicos devem aplicar-se como instrumentos de desenvolvimento educativo. Quando falamos em igualdade de acesso à educação, este é um fator essencial a ter em conta.
O acesso à educação de qualidade, é por unanimidade, fundamental, para a construção de sociedades mais iguais e justas globalmente. O problema é muito vasto e complexo, dentro dele, foco-me aqui apenas nos processos que se relacionam com os resultados fundamentais, necessários obter, para que erros do passado não se repitam e na tentativa de resolver o problema, se venha a cair em soluções falaciosas que nos levem a novos problemas.
A humanidade vive, na atualidade, um momento que enfrenta reptos que obrigam a mudanças paradigmáticas, onde a urgência das alterações climáticas, por exemplo e de como, os desafios que ela coloca, nos obrigam a repensar globalmente muito do que tem sido até aqui, a forma como os países mais desenvolvidos gerem as suas prioridades, enfrentam os problemas e como depois afetam com essas ações, as políticas de desenvolvimento social e económico, quer internamente, quer externamente.
Este enorme desafio, traz-nos com ele, uma oportunidade de resolver as questões de desigualdade entre classes sociais, regiões e países, que nunca a humanidade teve, até aqui. Não será possível resolver o problema climático, sem resolver simultaneamente os fatores sistémicos que afetam o mundo, nas diferentes dimensões que têm levado a essas desigualdades. O clima não conhece fronteiras, por isso, as soluções capazes de enfrentar o problema, têm de ser e ter um impacto global e transversal.
Uma vez que é a educação, um dos instrumentos que define, do potencial de desenvolvimento, aquele que é alcançado, é a partir desses resultados, do que conseguirmos obter que podemos mitigar as diferenças entre classes sociais, países e regiões, atacando o problema sistémico que é a pobreza, o subdesenvolvimento e todos os fatores que a partir daí, levam às desigualdades entre classes sociais, países e regiões. Qualquer proposta para enfrentar as alterações climáticas, que não inclua uma visão global que resolva estas fragilidades, estará condenada a falhar. O acesso a uma educação de qualidade, é peça fundamental para a resolução dos desafios que enfrentamos, onde essa igualdade pressupõe, inclusive, que o processo de desenvolvimento educativo, coincida, com a idade de aprendizagem adequada.
É, pois, urgente resolver o problema da incapacidade de garantir socialmente as condições desejáveis para que todas as crianças, tenham acesso e acompanhamento educativo adequados ao seu desenvolvimento e que isso ocorra, numa cada vez maior, equidade global, livre de todo o tipo fronteiras, barreiras sociais ou políticas.
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