A inteligência artificial: o seu impacto em Portugal e nas regiões mais desfavorecidas

Nos próximos dez anos estima-se, segundo um relatório publicado pelo Goldman Sachs que a inteligência artificial (IA) assuma a função do equivalente, à força de trabalho de trezentos milhões de trabalhadores, em todo o mundo.

  • Opinião
  • Publicado: 2023-04-19 07:45
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

O impacto da IA varia em diferentes setores; 46% das tarefas administrativas e 44% nas profissões técnicas podem ser automatizadas, mas apenas 6% na produção e 4% em tarefas de manutenção. Isto representará a perda de um quarto dos postos de trabalho nos EUA e na Europa, mas também pode levar à criação de novos empregos e a um crescimento na produtividade, aumentando em 7% o valor anual total de bens e serviços produzidos.

Existem vários estudos, e os números diferem por vezes em substância, uns dos outros. Desde alguns anos, a esta data, tenta-se prever e perceber como, quando e quantos postos de trabalho, poderão as novas tecnologias substituir. Toda esta questão não é nova, no entanto, face ao que tem sido a aceleração desta tecnologia em particular, a IA, percebemos com alguma facilidade, que o impacto sobre o mercado de trabalho e sobre a forma como trabalharemos, será muito diferente daquele que prevíamos.

A inteligência artificial tem vindo a ganhar destaque como uma das principais forças disruptivas do século XXI. A imagem de um futuro dominado pela IA, outrora limitada às páginas da ficção científica, é agora uma realidade tangível que promete transformar as nossas vidas nos próximos anos. Neste contexto, é crucial abordar a influência da IA na realidade europeia, em particular, na economia portuguesa, com relevo no impacto desta, no interior e regiões autónomas de Portugal.

A Europa tem investido fortemente no desenvolvimento e aplicação da IA, tentando posicionar-se na corrida pela vanguarda da inovação tecnológica. Portugal, enquanto membro da União Europeia, tem também a oportunidade de participar nestes esforços e capitalizar, para si, o potencial que a IA oferece. É essencial explorar de que forma esta tecnologia pode contribuir para o desenvolvimento sustentável e a revitalização do interior e regiões autónomas, tantas vezes negligenciadas nos diversos contextos de oportunidades que têm surgido, também aqui, nos de avanço tecnológico.

A IA tem um enorme potencial para melhorar a eficiência dos serviços públicos e impulsionar o crescimento económico em Portugal. Nas áreas da saúde, educação e administração pública, a IA pode resultar em otimização dos recursos e melhoria da prestação de serviços, resolvendo grande parte dos problemas que se têm visto difíceis de resolver. A prestação de cuidados de saúde, educação, relação entre cidadão e estado, mais personalizados, pode ser uma realidade de curto prazo, e com níveis de qualidade, que sirvam tanto o lado das necessidades do utente, como o lado do prestador do cuidado ou serviço. 

Além disso, o desenvolvimento de políticas públicas, balizadas em planos temáticos nacionais, para o incentivo à criação de clusters que se desenvolverão a partir da realidade que a IA está a construir, pode atrair investimentos e criar empregos qualificados, contribuindo para a atração e retenção de talento, assim como para a dinamização e transformação da economia nacional, , onde não se pode, nem deve, perder a oportunidade de dar a devida atenção às regiões mais desfavorecidas, situação que não ocorre, por exemplo, no âmbito da Estratégia Nacional de Inteligência Artificial, publicada em 2019, com objetivo de promover e mobilizar a sociedade em geral, para o ensino e investigação, para a inovação e desenvolvimento de produtos e serviços suportados em tecnologias IA. 

É fundamental garantir que as políticas públicas sejam orientadas para que os benefícios da IA cheguem a estas regiões. Um dos maiores desafios será acelerar a inclusão digital e o desenvolvimento de competências tecnológicas atualizando-o a esta a nova realidade, de modo a evitar o agravamento das disparidades existentes, entre Portugal e a Europa, assim como, entre o litoral, o interior do país e regiões autónomas. A implementação de infraestruturas tecnológicas, políticas de diferenciação positiva para a atração de talento e projetos âncora de inovação, baseados em IA, nessas regiões, podem ser passos importantes para alcançar esse objetivo.

Urgente é também a necessidade de adaptar o sistema educativo português. Será necessário investir na formação e capacitação dos profissionais para lidar com o desafio que esta realidade trará, já num curto e médio prazo, garantindo que todos possam usufruir das oportunidades trazidas pela IA. A educação deve evoluir no sentido de fomentar mais o pensamento crítico, a criatividade, a capacidade de autonomia formativa, do autoconhecimento e a resolução de problemas, habilidades essenciais para enfrentar os desafios impostos pela IA.

A rápida automação de postos de trabalho irá exigir a reconversão profissional de muitos trabalhadores. Assim, é imprescindível investir em programas de formação e reconversão profissional, ajudando esses trabalhadores a adquirir novas competências e a adaptar-se às profundas mudanças que se darão nos próximos anos no mercado de trabalho. Aqui, uma chamada de atenção, em particular, para estas regiões mais desfavorecidas, que têm nos últimos anos, encontrado num conjunto concreto de serviços de Call Center, Help Desk e Software House, soluções, como resposta de ofertas de trabalho. 

São já numa primeira fase, estas tipologias de funções que estarão sob risco imediato de uma rápida substituição por esta nova vaga de disrupção no trabalho, no entanto, ao contrário de outras vagas tecnológicas que levaram à substituição e reconfiguração deste mercado, neste caso, pela capacidade de aceleração dos processos e massificação, desta vez, assistiremos a uma fulminante e até assustadora substituição de quase todas estas funções. Em aproximadamente cinco anos, certamente não haverá atendimentos a este tipo de serviços, usando operadores e programadores humanos, como conhecemos hoje.

É importante garantir que as questões éticas e sociais relacionadas à IA sejam devidamente consideradas, fomentando o debate público e a consciencialização acerca dos riscos e das oportunidades que estas tecnologias apresentam. A transparência e a promoção de valores como a privacidade, a equidade e a responsabilidade devem ser princípios orientadores na implementação da IA, não só numa perspetiva e contexto europeu, como no seu enquadramento e adaptação às necessidades do país e suas regiões.

A inteligência artificial tem o potencial de acelerar o progresso e transformar a realidade económica portuguesa, trazendo o futuro que se pensava longínquo para o presente imediato. Contudo, é essencial que os governantes, através de políticas públicas direcionadas e a sociedade, em geral, estejam preparados para enfrentar os desafios e as oportunidades que a IA apresenta, garantindo um desenvolvimento inclusivo e sustentável para todas as regiões. Portugal tem aqui, a oportunidade de reconfigurar um futuro mais promissor, no qual, a transformação e inovação tecnológica que a IA irá trazer, pode e deve servir, como motor de desenvolvimento de coesão social e territorial.

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