Estará a humanidade preparada para, em troca da cura para doenças ou a prevenção de desastres naturais que salvarão milhões de vidas, abrir mão, para a tecnologia, do que até aqui, esteve apenas nas mãos de Deus e que foram, para o Homem, por impossibilidade de aceder a tais conhecimentos; mistérios, dogmas e fé?!
Podemos exigir à tecnologia que apresente melhores resultados, na prossecução da resolução dos grandes desafios que a humanidade enfrenta, como por exemplo, o tratamento e cura de doenças que até aqui, não foi possível ao Homem alcançar, como são as oncológicas.
A ciência originada a partir de pensamentos como os de Copérnico e Albert Einstein trouxe-nos até aqui, a partir dessas teorias a humanidade construiu a ciência que deu lugar ao que hoje temos como princípios fundamentais. Estes, deram lugar, aos alicerces da construção do pensamento científico de como o universo funciona, por sua vez, a partir dessa ciência, o Homem, estabeleceu o modo como a realidade opera e acontece. Mas tal como fizeram Copérnico e Albert Einstein, cada um em sua época, seria importante, manter o pensamento crítico, já que perante a ciência e verdades fundamentais dessa ciência, muito do que é o modus operandi da realidade, ou se preferirem, do modo como o universo funciona, ainda nos foge do controlo.
Toda a ciência, atualmente, parte do pressuposto de que o modo de funcionamento do universo se dá, a partir das teorias que formulamos, até aqui, sobre as leis do funcionamento do universo, entenda-se, de tudo o que afeta o que percebemos como realidade. No entanto, quando tentamos aplicar, esta atual ciência à tecnologia, na maioria dos casos, as soluções que deveriam ser sempre eficazes, caso a ciência que as orienta, estivesse completamente correta, não funcionam, ou na melhor das possibilidades, não são infalíveis.
A aplicação do pensamento crítico, é fundamental para a construção e constatação da verdade científica. Se algo não funciona, e é tentado resolver, a partir dos conhecimentos consagrados pela ciência atual, será por um de dois motivos; primeiro, não estarmos a conseguir construir a resposta, a partir do pressuposto científico correto, ou em alternativa, a segunda hipótese, que seria, as bases dos pressupostos da própria ciência, poderem estar a tornar inviável qualquer solução. Passo a explicar com um exemplo:
Há muito que procuramos a cura para o cancro. Uso este exemplo porque é tipicamente um, onde a tecnologia nos pode ajudar, mas apenas, responde aos pressupostos científicos com que a dotamos. Tratar doenças, como as de origem oncológica, é um dos grandes objetivos das tecnologias aplicadas, a partir da atual ciência.
A investigação, pesquisa e desenvolvimento, desta, parte do pensamento científico de como se dá o funcionamento do universo, e estes princípios, são transpostos para a tecnologia. A linguagem computacional ou informática é, no seu essencial, produzida a partir do modo de funcionamento da consciência no ser humano. Apenas difere no hardware, mas à mecânica funcional, o homem, ao inventar a máquina, ou seja, a tecnologia, aplica-lhe o mesmo paradigmático modo de funcionar da consciência humana, isto para a formação do poder computacional, entenda-se, inteligência artificial, por exemplo.
Este fato, não só torna a tecnologia, condicionada, na forma como pode responder, parametrizada apenas segundo as verdades da atual ciência, como a obriga a funcionar, a partir da perspetiva e limitações em que a cognição humana se manifesta. Por isso, se mantida sob esta ditadura, o que é legítimo, ao seu criador, poder tomar a decisão de o fazer, no entanto, só se lhe pode exigir: mais rápido, maior quantidade e menos erros, não se lhe podendo pedir outros resultados.
Na investigação do tratamento de doenças oncológicas, há muito que se assinala a presença, da sensação de que “algo está errado”. Esta, é uma constante, com que todos se enfrentam no dia a dia, no campo de pesquisa das diferentes áreas científicas e técnicas.
O cancro, dito de uma forma simples, é a disfunção que ocorre, resultante da função natural da divisão celular, condição básica para a manutenção dos organismos, através do processo de reposição de células. Como resultado desse funcionamento anómalo, dá-se o crescimento de células que invadem outros tecidos e/ou regiões no corpo do paciente, provocando o que conhecemos, por exemplo, por cancros malignos ou metástases.
Para o seu tratamento, existem já diversos tipos de abordagens, mas são apenas aplicados , na maioria, como procedimento terapêutico de primeira linha; a quimioterapia, radioterapia e uma outra, a imunoterapia, esta última, com duas variantes, considerada como um tratamento de segunda linha, na maior parte dos casos, exceção para o tratamento do cancro do pulmão que também já em Portugal, pode ser efetuado, com recurso à imunoterapia como primeiro tratamento, os restantes, encontrando-se ainda dentro do que são os designados tratamentos inovadores, ou seja, tratamentos de segunda linha.
O procedimento, através da radioterapia e quimioterapia, assenta na exposição das células do corpo do paciente a doses de radiações e/ou agente químico, a partir do qual, se procede à tentativa de eliminação dessas células cancerígenas, no entanto, provocando efeitos indesejáveis sobre as restantes células do corpo do paciente, uma vez que estas terapias, usando estas técnicas, atuam de forma não seletiva.
Uma das técnicas da imunoterapia, segue o mesmo princípio, aqui unicamente difere o agente usado para o fazer. No caso, da imunoterapia com recurso às “células soldado” do próprio sistema imunológico, a técnica passa por dar a instrução a estas células para fazerem, o que faz a radioterapia e quimioterapia. Dito de forma simples, usam-se as células do sistema imunológico do próprio paciente, através da instrução genética, retira-se o travão permitindo a estas, desempenharem a função da quimioterapia ou radioterapia.
A segunda técnica de imunoterapia, é menos agressiva. Partindo do motivo pelo qual o sistema imunológico, não consegue combater as células cancerígenas, uma vez que elas sendo células do próprio organismo, não são vistas, pelo sistema imunológico, como nocivas e por isso, o sistema imunológico torna-se incapaz de as eliminar. Esta abordagem terapêutica, assenta no princípio do uso de técnicas capazes de ensinar e treinar o sistema imunológico a reconhecer estas células como nocivas, portanto, devendo ser eliminadas.
Para isso, através da instrução programada numa vacina, usando por exemplo, a técnica de RNA mensageiro (mRNA) que foi aplicada às vacinas de nova geração para o COVID-19. Aqui em vez de carregar a informação RNA de um vírus, carrega-se a informação da célula cancerígena. Salientar que só foi possível chegar a uma vacina de forma tão rápida para o COVID-19, exatamente porque alguns grupos, na área da imunologia, estão a desenvolver a técnica para aplicação no tratamento oncológico.
Antes da atual pandemia, os trabalhos de investigação na área da imunoterapia, eram mal vistos e olhados com desconfiança pela comunidade em geral, até pela maioria da comunidade científica, hoje é vista como a solução para tudo o que até aqui está por resolver. O próprio Plano Europeu de luta contra o Cancro, já prevê apoio para este tipo de investigação, assim como para as tecnologias a si associadas, aliás, é um dos pilares da aposta para a investigação e desenvolvimento de novos tratamentos e cura. Passou-se de um estado de condenação e descrédito da tecnologia mRNA para uma eufórica onda do que ela conseguirá alcançar, com um otimismo algo perigoso, no que se poderia assinalar como expectativa de resultados, para o combate à doença oncológica, de forma geral.
Existe, uma pergunta que entre os diversos grupos de investigação, através da tecnologia, tentam responder, há vários anos: Porquê a imunoterapia, com células dendríticas e/ou mRNA, por vezes curam o paciente e noutras, na maioria das vezes, não curam?
A esta pergunta, equipas de tecnólogos em Inteligência Artificial (IA) trabalhando com grupos de cientistas imunologistas que há mais de 20 anos vacinam com esta técnica em protocolos experimentais, tentam responder, e já se chegou a algumas conclusões interessantes. Tais, permitem-nos colocar água na fervura do entusiasmo com que todos olham agora para esta tecnologia que foi usada para o COVID-19, aplicada a problemática oncológica, a saber:
A eficácia da técnica de mRNA para o vírus, foi possível, devido ao fator de mutação, ocorrer a uma velocidade que permite ter uma variável viável, ou seja, uma mutação estável, o tempo suficiente para que; se crie a versão da vacina, se fabrique, se distribua, se administre, o sistema imunológico incorpore tal informação e assim, se atinja a imunidade a essa variante.
No caso das mutações das células cancerígenas, a velocidade e imprevisibilidade, em que ocorrem, torna ineficaz o tratamento, uma vez que essas variáveis e velocidade, determinam a qualidade da informação que é transferida para o sistema imunológico. Ou seja, por um lado, a imprevisibilidade de variações da mutação, por outro, a velocidade em que ocorrem, que quando o sistema imunológico do paciente oncológico, está apto a reconhecer aquele tipo de mutação da célula, as previsões não são coincidentes com as variações, ou se coincidentes, já as mutações que ocorreram posteriormente, tornaram-nas novamente invisíveis ao sistema imunológico do paciente.
É partindo destas conclusões, com vista a levar a cabo uma proposta tecnológica que possa apresentar potenciais soluções, para a partir delas, desenhar uma linha de investigação e desenvolvimento, com o objetivo de chegar à solução do problema, que surgiu a necessidade de responder a uma pergunta mais difícil ainda:
Como podemos colocar o poder computacional, a auxiliar-nos a calcular e determinar os fatores, variantes e comportamentos futuros de determinada célula cancerígena, de forma a registar, o conjunto de possibilidades de mutações, capazes de ser transmitidas por técnica de mRNA ao sistema imunológico, assertivo em qualidade e tempo, de forma a possibilitar, a este; incorporar a informação, reconhecer e combater essas mutações”?
Perante a necessidade de determinar o comportamento de um evento como é a mutação anormal de uma célula, até aqui, aplicamos os atuais pressupostos do conhecimento científico. No caso, através de algoritmos, tenta-se proceder ao cálculo de reações e relações, que um evento tem, com o que entendemos por espaço-tempo. O fato é que a solução se tem tornado inviável, se aplicarmos ao problema, a tecnologia, partindo dos pressupostos com os quais hoje entregamos dados aos algoritmos. Esta foi, de forma resumida, a conclusão dos resultados factuais que até hoje, se conseguiram obter.
Se o que procuramos, são resultados além dos existentes, são necessárias abordagens além do ordinário. Tal como Copérnico, também nós devemos perceber que precisamos de mudar os pressupostos com que estamos a orientar a tecnologia para ver o que ao Homem não é possível ver, mas que para a tecnologia, só é invisível e indetetável porque a estamos a construir, a partir do modus operandi da consciência e das características da perceção humana.
Higgs propõe uma teoria a partir da qual, é possível explicar a manifestação da matéria. Tal teoria, afirma que existe um campo, sendo as condições e o como, esse campo interage com as partículas, que define o modo da manifestação da matéria, assim como as suas variações no tempo-espaço. A maioria concorda com esta teoria e para isso, a humanidade construiu testes em aceleradores de partículas para procurar provar a existência da partícula divina (o bosão de Higgs).
É a partir da inexistência de dados deste campo e dos pressupostos que interagem com a forma como ele afeta a matéria e esta se manifesta, e tal fato, não estar a ser considerado nas atuais abordagens tecnológicas que viabiliza as falhas de resultado de testes. Não se estando a aplicar pressupostos científicos, que permitam fornecer novas formas de obter dados aos modelos de Inteligência Artificial, cria-se um círculo de resultados viciados em torno do óbvio que tem sido o fracasso no objetivo de ter terapias de tratamento eficazes e estáveis.
Procura-se agora a partir desta nova perspetiva, desenvolver algoritmos e sensoriamento digital, assente nestas novas fontes de dados, face ao que são a forma de funcionamento dos atuais modelos, passando a redefinir a forma de funcionar do poder computacional e da origem dos dados que os abastecem.
Usando um novo paradigma de programação, entenda-se, uma nova forma de obter dados para o “pensar computacional”, permitindo que a tecnologia, “preveja” esse campo de Higgs que envolve cada evento/partícula e a partir desse mapa, determinar em função do espaço-tempo, qual será o comportamento de cada partícula (célula cancerígena), em cada evento (intervalo temporal).
Caso esta nova abordagem, obtenha a confirmação de estar correta, estamos a usar a tecnologia para ler “o código de programação do universo”, mas passaremos a depender da tecnologia para o ver. Na verdade, será ela, a tecnologia que terá como vê-lo e até interagir com ele. Pois à semelhança de muitas outras limitações humanas, tem sido com o auxílio da tecnologia que a humanidade tem resolvido desafios que sem ela, seria impossível resolver.
Subscreva à nossa Newsletter
Mantenha-se atualizado!
© - Diário Digital Castelo Branco. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por: Albinet