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Qual o valor do que fazes e o valor do que és? Quanto vale a tua vida?

O que é mais importante, o teu nome, reputação e estatuto social, entenda-se, o que a sociedade entende por estes termos e conceitos, ou é mais importante, a intenção genuína que está por trás daquilo que fazes e consequentemente, o resultado disso.

  • Opinião
  • Publicado: 2023-08-29 15:30
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Quanto vale a notoriedade social, académica, científica ou política, e o poder que estas carregam? Qual destas, se torna verdadeiramente perpétua? Nenhuma.

Não importa o quanto reconhecimento alcances; social, político, académico, artístico ou outro, uma vez que, enquanto indivíduo que és, logo que deixes de poder exercer essas funções e/ou tarefas, todos deixarão de te atribuir qualquer importância ou significado, apenas ficará a obra, o resultado do que foi feito, e caso não o deixes terminado, corres o risco de, nem isso, vir a ser. É sempre assim.

Para quê então, socialmente preocuparmo-nos com o quanto somos reconhecidos, quando os outros apenas estão preocupados em agir de forma a agradar, para com aqueles/as, onde percebam estar o poder que lhes possa permitir, na interação e/ou relação, beneficiar desse poder, e apenas, no momento que essa pessoa o porta. Se assim é, para quê dar importância ao que os outros pensam de nós. Para quê gastar energia a preocupar-nos; como pensam e como nos podem julgar, se e, quando fazemos algo, temos a certeza de que esse algo é maior do que tudo isso, e até, maior do que nós mesmos.

Tenho visto figuras contemporâneas chegarem a esta conclusão tarde de mais. Percebo no fim de ciclo de poder ou de vida deles que, entenderam que embora tivessem tido vidas de poder e tenham sido levados a pensar que, ao estarem a ser reconhecidos enquanto no poder, significaria que isso perpetuaria e justificaria a permanência desse reconhecimento, mesmo quando deixassem de o ter. A maioria de nós apenas descobre que isso é uma ilusão nossa, tarde demais, só quando perde de fato esse poder, seja ele; por perda de capacidades intelectuais, físicas, circunstâncias políticas, económicas, financeiras, etc.  

Tenho exemplos muito próximos de mim, grandes homens e mulheres que deram tudo pelo bem-comum, por causas públicas, pela ciência, pela cultura, pela educação para todos, pelos pobres, pelos mais frágeis, pelo país, pela humanidade. Essas figuras, deixaram os cargos que lhes outorgava o poder. Na realidade nunca estiveram agarrados a esse poder, mas sim genuinamente concentrados em fazer a coisa certa, na missão que os/as movia, na luta constante por essa missão e causa. Enquanto isso durava, distraídos, eram cercados por bajuladores/as, por lambe-botas e profissionais-da-oportunidade.

As suas carreiras e funções cessaram, eles/as por terem vivido tão focados na sua missão, nunca perceberam que a perpetuidade do que estavam a fazer, não tinha ganho verdadeiros herdeiros, mas exímios oportunistas que visavam apenas os proveitos de tal situação. O sucesso estava ligado por isso, ao poder do momento. Perdido o poder, findo que fosse o seu estatuto e assim que as circunstâncias ditassem aos falsos discípulos a necessidade de provar a audácia da crença na missão, assim que surgisse a primeira tempestade a enfrentar à frente do leme, tão rápido se assistiria à debandada em uníssono de toda a corja de bajuladores/as, ou na melhor das possibilidades, à imediata alteração do rumo, navegando para águas mais calmas, pouco importando o destino e a missão. 

Sempre e quando a nossa intenção é fazer algo tão grande, que é maior do que nós, maior do que a nossa própria vida, então é preciso olhar, simultaneamente, para dentro da embarcação e para longe no horizonte. Perceber os sinais e procurar tentar saber identificar cada momento, cada evento, e se necessário corrigir, para assim, não só garantir hoje, como também que haverá sempre quem orientará as velas, para que elas se mantenham rumo ao caminho certo, não com o objetivo de encontrar o mar mais calmo, mas com a certeza de que, independentemente da intempérie que enfrente, esse é o caminho.  

Por vezes os caminhos certos, obrigam a mares tempestuosos e os caminhos errados, atraem-nos, por que nos apresentam mares “aparentemente” calmos. O mesmo ocorre com a escolha da tripulação que levará tal embarcação. Ambos são de importância fundamental. Alguns descobrem ainda a tempo e corrigem, outros tarde de mais e surpreendem-se. Mas nada disso deveria ser surpresa se vivêssemos a vida com a devida atenção, consequentemente, com a necessária coragem e o devido cuidado, para agir atempadamente.

Se o que fazes é maior do que tu, se o que és é apenas um instrumento de algo maior, então o que pensam de ti, pouco te deve importar, uma vez que, o que importa verdadeiramente é a intensão genuína do que fazes e o seu resultado perpetuado no tempo. 

Uma última reflexão para aqueles/as que passam a vida a procurar mares calmos ou “coisas menores”:

No final todos/as vamos morrer. É a única certeza que podemos ter, após o nascimento. Independentemente das justificações que a tua voz interior te dê para não fazeres o que é maior do que tu, o que está para além dos teus interesses pessoais, profissionais e familiares, haverá um dia, talvez apenas uns segundos, naquele momento singular que todos desconhecemos como será, mas todos sabemos que chegará, em que, o nosso estado de consciência, pela força das circunstâncias, será obrigado à honestidade, e a pergunta far-se-á ouvir: 

_Quanto vale a vida que usaste? Porque o que ficar dela, será o valor do que serás, depois dela, mas também, o verdadeiro valor do que és e sempre foste. 

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