O artista plástico Manuel Cargaleiro, que morreu no final de Junho, em Lisboa, doou “todo o recheio da sua casa, em Almada” à Câmara do Seixal, por testamento, anunciou a autarquia.
“O mestre Manuel Cargaleiro, falecido em 30 de junho, aos 97 anos, doou ao município do Seixal, em testamento, todo o recheio da sua casa, em Almada, que inclui as suas últimas cinco obras originais, o ateliê de pintura, vários móveis e muitos objetos de coleção”, lê-se num comunicado divulgado pela Agência Lusa.
Manuel Cargaleiro tinha uma relação longa com este município do distrito de Setúbal, onde se localiza a sua Oficina, e ao qual “ainda em vida, tinha doado sete obras, no valor global de cerca de 500 mil euros”. Este ano levou obras nunca expostas Oficina de Artes Manuel Cargaleiro.
Para o presidente da Câmara do Seixal, Paulo Silva, este é um “importante legado” que reconhece o “trabalho efetuado pelo município em prol da cultura, no que respeita à sua promoção, formação e produção”.
“É uma honra para o Município do Seixal receber esta doação e responsabilizar-se pela guarda, segurança e conservação, comprometendo-se com a sua incorporação no acervo municipal de arte”, garante o autarca, no mesmo comunicado.
A câmara adianta que está “a ser preparada uma exposição deste legado, a inaugurar no início de 2025, na Oficina de Artes Manuel Cargaleiro”, localizada na Quinta da Fidalga.
A Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, inaugurada em 2016, está situada num projeto do arquiteto Álvaro Siza, e tem por objetivo “promover a arte contemporânea, em particular a obra do mestre Manuel Cargaleiro, assim como as coleções da Fundação Manuel Cargaleiro, através da realização de exposições temporárias, do desenvolvimento de atividades educativas no âmbito da sua programação e da promoção de parcerias com organismos congéneres”.
O pintor e ceramista Manuel Cargaleiro morreu no passado dia 30 de junho, em Lisboa, aos 97 anos.
O artista plástico nasceu em 16 de março de 1927 em Chão das Servas, no concelho de Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco.
A sua obra foi fortemente inspirada no azulejo tradicional português. Em 1949, ingressou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e participou na Primeira Exposição Anual de Cerâmica, no Palácio Foz, em Lisboa, onde realizou a sua primeira exposição individual de cerâmica, no ano de 1952.
No início de carreira, ainda na década de 1950, recebeu o Prémio Nacional de Cerâmica Sebastião de Almeida, e o diploma de honra da Academia Internacional de Cerâmica, no Festival Internacional de Cerâmica de Cannes, em França, numa altura em que iniciara funções de professor de Cerâmica na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, e apresentara as suas primeiras pinturas a óleo no Primeiro Salão de Arte Abstrata.
Nas décadas de 1960 e 1970, participou em exposições individuais e coletivas e durante este período afirmou-se não apenas como conceituado ceramista, mas também como desenhador e pintor. Nos anos 1980 começou a explorar a tapeçaria.
A partir da década de 1990, predominaram na sua obra os padrões aglomerados e cromaticamente intensos onde continuaria a ser evocado o azulejo português.
Em Castelo Branco foi inaugurada a Fundação Manuel Cargaleiro, em 1990, depois expandida com o respetivo museu e mais tarde, no Seixal, a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro.
O ceramista recebeu, em Paris, em 2019, a medalha de Mérito Cultural do Governo português e a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da capital francesa, onde viveu grande parte da sua vida.
Em 2017, no exato dia do seu 90.º aniversário, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique.
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