Castelo Branco: Póvoa de Rio de Moinhos está na rota dos Caminhos de Santiago há muito tempo

A Cooperativa Pinacoteca e a Associação Raia Gerações, organizaram uma palestra na “Casa da Cultura”, subordinada ao tema “Caminhos de Santiago – O Primeiro Itinerário Cultural Europeu – Património da Humanidade”. 

  • Cultura
  • Publicado: 2024-08-04 16:22
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Evento decorreu no passado dia 28 de Julho e teve o apoio da União de Freguesias de Póvoa de Rio de Moinhos e Caféde, onde os oradores convidados foram Maria Libânia Ferreira, licenciada em Educação de Infância e Educação Especial, com colaboração em várias organizações locais e investigadora em temas relacionados com a localidade, Anselmo Cunha, investigador, dirigente associativo, sociólogo e antropólogo, e o Padre Ilídio Mendonça, investigador, historiador e teólogo. 

Ana Sofia Pereira, presidente da União de Freguesias de Póvoa de Rio de Moinhos e Caféde, agradeceu à organização da Palestra, de se salientar o facto de na rota dos Caminhos de Santiago, estar incluída esta aldeia.

Maria Libânia Ferreira, fez o resumo da história de São Tiago Maior, um dos apóstolos escolhidos por Jesus de Nazaré, que, depois da morte de Jesus Cristo, veio para o norte da Península Ibérica evangelizar os povos daquela região. Após o seu regresso a Jerusalém, no ano de 42, São Tiago Maior foi martirizado, como todos os outros apóstolos, por ordem de Herodes Agripa e o seu corpo trazido novamente para a Península Ibérica, sendo sepultado na região da actual Galiza (Reino de Espanha). A sepultura de São Tiago Maior esteve praticamente esquecida durante oito Séculos, mas quando as ossadas (relíquias) foram descobertas, por volta do ano de 820, na região do Reino das Astúrias, o local foi logo considerado lugar de grande devoção e começaram as peregrinações, com gente vinda de terras cada vez mais distantes. Um dos grandes impulsionadores do culto a São Tiago Maior foi o rei das Astúrias, Afonso III, que visitou o local em 874, oficializando assim o apoio às peregrinações, que terão atingido o ponto mais alto já no século XV e início do Século XVI, altura em que o clima melhorou, a população aumentou, o comércio renasceu e a Igreja Católica decretou o perdão dos pecados e a concessão de outras graças a quem fosse em peregrinação ao santuário.

Entretanto, as pestes, as guerras e a Reforma Protestante, ainda no século XVI, contribuíram para alguma irregularidade nas peregrinações e, já no final do século, com a região ameaçada pelo exército inglês, o bispo de Santiago de Compostela decidiu esconder as relíquias de São Tiago Maior num local que permaneceu desconhecido por mais de trezentos anos. Em 1891 voltam a ser encontrados e a cripta do Apóstolo foi aberta ao público, o que fez renascer o culto do lugar e as peregrinações.

A primeira visita do Papa João Paulo II ao Santuário, em 1982, a declaração de Itinerário Cultural Europeu, pelo Conselho da Europa e reconhecimento do Caminho Francês como Património Mundial pela UNESCO deram um novo impulso às peregrinações, que tinham perdido algum vigor na primeira metade do século XX, com a peste, a Grande Guerra, a Guerra Civil Espanhola e a 2ª Grande Guerra.

Atualmente são muitos os milhares de pessoas que se deslocam a Santiago de Compostela todos os anos, envergando os símbolos de referência a São Tiago Maior: a vieira, o cajado, a cabaça, o chapéu e a cruz, e seguindo a direção da seta amarela acompanhada, geralmente, duma vieira estilizada.

Por parte da oradora foram referidas rotas prováveis dos Caminhos de Santiago, pertencentes à freguesia de São Vicente da Beira, nomeadamente a que, passando por Cafede, seguiria pela Póvoa de Rio de Moinhos, Tinalhas, São Vicente da Beira, Senhora da Orada e atravessaria a Gardunha pelo sítio da Portela. Para além de a serra ter aqui uma altura menos acentuada que noutros pontos, os peregrinos dispunham, desde há muito, de vários albergues e estalagens ao longo do percurso, assim como do alpendre de capelas, como o da Ermida da Senhora da Orada.

Poderiam também, depois de Cafede, seguir pelo Freixial do Campo, Mourelo, Partida, Paradanta, atravessando a Gardunha no local onde tem apenas seiscentos metros de altitude. A antiguidade da ermida de São Tiago, na Partida, e o culto ao Santo, são um forte indício de que o local poderá ter sido uma referência dos Caminhos de São Tiago, que, inevitavelmente, passariam por onde lhes eram oferecidas melhores condições naturais e humanas.

O Padre Ilídio Mendonça, teve em atenção a parte religiosa.

São Tiago Maior era um dos 12 apóstolos de Jesus de Nazaré, era irmão do apóstolo São João Evangelista e era filho de Zebedeu. 

Zebedeu era proprietário de um barco de pesca no lago de Genesaré, os seus filhos Tiago e João trabalhavam com o seu pai na arte da pesca. Foi exactamente no local de trabalho, que Jesus de Nazaré convidou Tiago e João para serem seus discípulos (situação referida no Evangelho Segundo São Mateus, capítulo IV).

São Tiago é designado o Maior, para distinguir de outro Santiago, o Menor que era parente de Jesus de Nazaré.

São Tiago Maior, juntamente com os apóstolos São João Evangelista e São Pedro foram escolhidos por Jesus de Nazaré para acompanhar grandes acontecimentos: a Transfiguração no Monte Tabor; a agonia no Jardim das Oliveiras, em Jerusalém; a ressurreição da filha de Jairo. Após o Pentecostes, onde recebeu, juntamente com os outros apóstolos o Espírito Santo, sabemos que trabalho na evangelização com São Pedro, mas em 42 depois de Cristo, vai para Jerusalém a fim de celebrar a Páscoa, no entanto foi preso a mando de Herodes Agripa I. Foi o primeiro apóstolo a ser martirizado, e segundo a tradição foi sepultado em Cesareia.

A história do apóstolo São Tiago Maior, mistura-se com lendas, uma delas diz que terá vindo pregar à Hispânia e que no regresso a Jerusalém terá sido o seu martírio, no entanto não existe documentação que prove tal situação. Escritores ibéricos do Século I, não se referem a São Tiago Maior, como São Julião de Toledo, Prudêncio, Osório, São Martinho de Dume, Isidoro. Outra lenda, diz que os discípulos de São Tiago Maior, após a sua morte, trouxeram o corpo de barco até à Península Ibérica e sepultaram-no em Padron (Galiza).

Em 830, foi encontrado um túmulo romano em Padron e o Bispo Teodomiro reconheceu-o como sendo de São Tiago Maior. As ossadas (relíquias) de São Tiago Maior foram levadas para Compostela onde foi edificada uma pequena igreja, mais tarde substituída por uma enorme basílica, mandada construir pelo Rei Afonso III, a construção da basílica iniciou-se em 1075. Mas, no Século X, o túmulo de São Tiago Maior começou a ser atraído por estrangeiro, e no Século XII, os peregrinos invadiram as estradas, para isso contribuiu os Abades da Ordem de Cluny. 

Em 1884, após as escavações o Papa Leão XIII, com a bula “Deus Omnipotens”, reconhece a autenticidade, mais tarde com a vinda do Papa São João Paulo II em 1982 e 1989 e a posterior vinda do Papa Bento XVI no Século XXI é fortalecida a credibilidade. 

No final da sua comunicação, o roador Padre Ilídio, falou da Arte Religiosa. 

Anselmo Cunha, participou em representação da Confraria dos Caminhos, uma associação fundada em 2011, sedeada em Castelo Branco, e que tem como principal fim a promoção e divulgação do Caminho de Santiago na Beira Baixa. Entre outras actividades, esta Associação participou na colocação de sinaléctica no Caminho de Santiago que cruza os concelhos de Vila Velha de Ródão e Castelo Branco e organizou dois colóquios Castelo Branco, 2020 e Vila Velha de Ródão, 2022).

Na sua alocução salientou que os Caminhos de Santiago, são caminhos milenares, que na sua origem poderá estar algum ritual dos povos celtas (pré-cristãos) associado ao cabo Finisterra (fim da terra), posteriormente aproveitado pela Igreja Católica através da associação ao apóstolo Santiago Maior eda pretensa descoberta das suas ossadas no “campo de estrelas” (Compostela).

Já na Idade Média, algumas personagens históricas realizaram peregrinação a Santiago de Compostela, como por exemplo a Rainha Santa Isabel, esposa do Rei de Portugal, Dom Dinis, o que contribuiu muito para a sua difusão. Nos últimos 40 anos os Caminhos de Santiago registaram um número crescente de peregrinos, tendo sido contabilizados quase 500.000, no ano de 2023. Ainda que a maioria deles sejam europeus, encontram-se peregrinos oriundos de todos os continentes, movidos pela fé ou pela simples aventura.

O Caminho mais frequentado é o Caminho Francês que atravessa o norte de Espanha, seguido do Caminho Português (sobretudo a partir do Porto). Em maio de 2018 foi dada alguma projecção ao designado “Via Portugal Nascente”, com o alto patrocínio e participação do Presidente da República. A Via Portugal Nascente recupera o Caminho de Santiago pelo interior de Portugal, ligando Tavira a Trancoso, continuando a partir daí por outros já existentes. Esta via cruza as povoações de Caféde e da Póvoa de Rio de Moinhos.

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