Impacto da violência doméstica nas crianças e jovens discutido em Vila Velha de Rodão

O impacto da violência doméstica nas famílias, crianças e jovens foi o mote para um ciclo de conversas que juntou profissionais e especialistas na Casa de Artes e Cultura do Tejo, em Vila Velha de Ródão.

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  • Publicado: 2024-10-23 22:41
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Organizado, a 18 de Outubro, pela   Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Vila Velha de Ródão, com a colaboração do CLDS 5G e o apoio do Município de Vila Velha de Ródão, o encontro alertou para o impacto negativo da exposição à violência nos primeiros anos de vida e para a importância de reconhecer os sinais e sinalizar as situações de violência doméstica.

Segundo a organização, este evento procurou criar “um espaço de diálogo aberto e construtivo, que permita encontrar soluções que possam contribuir para que as crianças cresçam em ambientes seguros e protegidos, já que a violência doméstica não afeta apenas os envolvidos, mas também as crianças e jovens que são testemunhas e vítimas dessa realidade”, como explicou a presidente da CPCJ de Ródão, Marília Pires, no arranque do encontro.

Caracterizando este fenómeno como “inquietante e inaceitável”, também o presidente do Município de Vila Velha de Ródão, Luís Pereira, lembrou que a violência doméstica “é transversal a toda a sociedade e não afeta apenas estratos sociais desfavorecidos” e defendeu a necessidade de “assumir a violência zero como um desígnio nacional e assegurar o direito à dignidade e qualidade de vida das vítimas”.

Durante a manhã, a iniciativa contou com a participação de Carmen Ludovino, jurista e técnica da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que sublinhou que violência interparental “tem sempre um impacto negativo no desenvolvimento, saúde e bem-estar das crianças ou jovens”, já que estas tendem a reproduzir os modelos dos adultos, quer como vítimas, quer como pessoas agressoras, “perpetuando o ciclo da violência de forma transgeracional”.

No mesmo sentido, o pedopsiquiatra da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, João Caseiro, esclareceu que “a exposição precoce a violência e maus tratos afeta de forma permanente e adversa o funcionamento neurobiológico, psicológico e social das crianças”, com os estudos a indicarem que estas têm mais dificuldades no relacionamento com o outro, assim como ao nível da socialização e do sucesso académico.

Este especialista esclareceu ainda que “a violência exercida sobre uma figura parental tem tanto impacto na saúde mental das crianças como a violência exercida sobre elas próprias, já que essa é a sua figura de referência e vinculação”, e chamou a atenção para o impacto da depressão pós-parto dos progenitores no desenvolvimento e na saúde mental das crianças, um fenómeno ainda pouco estudado e que pode conduzir a que estes prestem uma menor qualidade de cuidados e menos afetos positivos. 

A importância de estar atento aos sinais, já que as crianças muitas vezes têm dificuldade em verbalizar as situações de violência a que são expostas, foi destacada pelo Procurador do Tribunal de Família e Menores de Castelo Branco, José Cerdeira, que apelou a que estes casos “sejam sinalizados, pois eles só se podem resolver se os factos chegarem ao conhecimento de quem pode ajudar”. “A rede existe, é preciso comunicar mais e fazê-la funcionar”, defendeu este responsável.

Já durante a tarde, a sessão contou com os testemunhos da presidente da delegação do Centro da Ordem dos Psicólogos, Linda Vaz, e do sargento Ricardo Ramos, do Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas da GNR, que se debruçou sobre a importância da cooperação entre as diversas entidades no que respeita à prevenção, deteção e intervenção em casos de violência doméstica.

A apresentação do projeto “VincuLar” por Sara Santos, do Centro Assistencial, Cultural e Formativo do Fundão, encerrou a sessão. Destinado à proteção de crianças e jovens em perigo, cujas famílias, provisoriamente, não conseguem garantir a sua segurança, bem-estar e desenvolvimento integral, este projeto assume-se como uma nova resposta social de acolhimento familiar e visa garantir a proteção destas crianças através da colocação em famílias de acolhimento, durante um período da sua vida, evitando assim a institucionalização.

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