A Associação de Defesa do Património Cultural de São Miguel de Acha (ADEPAC), no âmbito do II Encontro de Poesia e Contos de São Miguel d’Acha, apresentou no sábado passado, 9 de Novembro, no auditório da Junta de Freguesia de São Miguel de Acha.
Tratou-se um recital organizado pelo poeta Gonçalo Salvado dedicado a Luís Vaz de Camões em celebração dos 500 anos do seu nascimento, com o título “Fogo que arde sem se ver – Amor e fogo na lírica de Luís de Camões seguido de Poemas de homenagem a Camões”.
Durante o recital foram lidos poemas pertencentes ao corpus lírico amoroso camoniano com referência ao elemento fogo de forte ressonância na poesia do expoente maior do lirismo nacional e uma seleção dos mais belos poemas dedicados a Camões escritos em língua portuguesa e por autores estrangeiros. Colaboram no recital Carina Anselmo, Trindade Antunes, Antonieta Salgueiro, Fátima Torrado e Fábio Superbi.
A cerimónia contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto; da presidente da Junta de Freguesia de São Miguel de Acha, Cristina Geraldes e da presidente da ADEPAC (Associação de Defesa do Património Cultural de São Miguel de Acha), Sofia Gonçalves.
Das palavras de abertura de Gonçalo Salvado salientamos:
“Nunca será demais homenagearmos Camões, que nos deixou em herança o que de mais elevado existe na nossa língua e na nossa poesia. É hábito dizer-se que a língua portuguesa é de Camões, assim como a língua italiana é de Dante ou como a língua espanhola é de Cervantes. Muito lhe devemos, por certo. O culto de camões não terminou até hoje nem mostra sinais de abrandamento. Bem pelo contrário. Cada geração se revê nos versos sublimes que nos legou como no espelho das águas mais translucidas. Reencontramos na sua poesia o nosso verdadeiro rosto e a essência da nossa identidade lusíada mais profunda que se caracteriza antes de mais pelo lirismo.
Ora, se há poesia com a qual o nosso lirismo tem laços de profunda consanguinidade, essa é a de Camões. Como nenhuma outra marcou indelevelmente a expressão do amor, permitindo-nos através dela reconstituir uma arte de amar em língua portuguesa.
A sua primeira leitura foi para mim uma das experiências mais apaixonantes que vivi. Não há verso lírico de Camões que não guarde o vestígio do pulsar do meu próprio coração, do meu total arroubamento.
A sua estética amorosa inspirou a minha e conduziu-a pelas sendas de um culto a uma divindade feminina, mas com um rosto muito humano, que é para ele a mulher, fonte de encantamento dos sentidos e de uma contínua exaltação que é a mais genuína fonte da poesia.
A mulher em contraponto com a natureza que espelha a sua beleza e de que a sua beleza é o divino espelho, está ao centro, é a protagonista de eleição da poesia camoneana, em cujos versos achei o motivo condutor de várias antologias poéticas que realizei com o intuito de o homenagear. Uma delas foi publicada em Espanha e intitula-se Camões Amor Somente (Salamanca, Espanha, 1999). Trata-se de uma trans-criação e que na verdade foi um estreito diálogo entre o meu universo e o daquele que é considerado o expoente do lirismo português e um dos expoentes do lirismo europeu.
Camões é eterno, pois. Não duvidemos disso. Tal como escreveu um camonista ilustre português” : O que faz a perenidade de camões é que não há colete epocal que o cinja perfeitamente, pois o seu génio faz estalar as costuras de todas as vestes com que se pretenda dar-lhe fugurino mais consentâneo com a arrumação em qualquer cabide definitivo”. Por isso, a ninguém que ame a poesia lhe é indiferente a voz grandiosa e única de Camões.
Que o culto por Camões continue assim por muitos séculos e que as futuras gerações possam fruir e admirar uma obra que honra não apenas a nossa nacionalidade, mas a grande e universal pátria da Poesia.”
Subscreva à nossa Newsletter
Mantenha-se atualizado!
© - Diário Digital Castelo Branco. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por: Albinet