Silvino Santos, natural de Cernache do Bonjardim, concelho de Sertã, e conhecido como “o Cineasta da Selva”, está em destaque na exposição “Raízes da Amazônia: O Olhar de Silvino Santos”, patente até 31 de Janeiro, no Museu da Imagem e do Som do Amazonas (MISAM), localizado em Manaus, Brasil.
São 11 as fotografias da autoria de Silvino Santos que podem ser apreciadas nesta exposição concebida para celebrar o Dia do Fotógrafo (8 de Janeiro), com base no acervo fotográfico de Joaquim Gonçalves de Araújo. As fotografias de Silvino Santos foram escolhidas para assinalar a efeméride por se tratar “da pessoa que trouxe as filmagens da própria Amazônia ou que produziu seus filmes aqui na nossa região, mas também quem fotografou a essência em si da própria Amazônia”, referiu Clóvis Neto, gerente do MISAM, conforme referido no site oficial http://website oficial. A seleção fotográfica retrata a expedição realizada por Silvino Santos e Hamilton Rice, durante a qual, Silvino documentou a produção e exportação de borracha e juta e a interacção com comunidades indígenas (Moigôns, Macús, Tucanos e Xirianás), que deram origem ao filme “No Rastro do El-Dorado” (1925).
Em nota de imprensa, Carlos Miranda, presidente da Câmara Municipal da Sertã, destaca este reconhecimento dado a Silvino Santos pelo Museu da Imagem e do Som do Amazonas. “Ainda hoje, na região da Amazónia, quer no lado do Brasil, quer no lado do Peru, está bem presente o percurso deste grande vulto e pioneiro do cinema, natural de Cernache do Bonjardim, concelho da Sertã”. O autarca elogia a iniciativa do museu, que recorda “um homem da terra com um percurso de vida brilhante, que mostrou a Amazónia ao mundo”. “É um vulto do nosso concelho, muito à frente no seu tempo e, por essa razão, todas as iniciativas para o recordar são de enaltecer“, concluiu Carlos Miranda.
Durante muitos anos da sua vida, Silvino Santos fotografou e filmou a região amazónica, deixando registado o seu olhar característico sobre as gentes, as atividades e o rio Amazonas, que desde pequeno desejava conhecer. Ainda nos dias de hoje, este rio desperta a curiosidade de muitos e, viajar ao longo do seu curso, era um sonho antigo de José Luis Jorge, que concretizou no final de 2024. O fotojornalista e viajante, oriundo de Leiria, percorreu os milhares de quilómetros do rio Amazonas: primeiro por terra, e depois por água, desde a nascente no Peru, atravessando a Colômbia e até chegar à sua foz no Brasil. A viagem durou dois meses e, conforme publicado pelo jornal Região de Leiria, foi pautada por alguns perigos, peripécias e descobertas inesperadas. Na passagem pelo Peru, José Luís Jorge encontrou referências a Silvino Santos, na cidade de Iquitos, mais concretamente no Departamento de Educação do Governo Regional de Loreto, que o apresenta como “o fotógrafo e cineasta português, contratado por J.C. Araña, que realizou o registo fotográfico dos indígenas e filmou duas películas”.
Já no Brasil, em Manaus, José Luís Jorge encontrou uma “forte presença portuguesa”. Ao visitar o MISAM, deparou-se com referências e publicações sobre Silvino Santos, que o próprio museu define como “um genial pioneiro do cinema”. Desde dados biográficos, fotografias de Silvino e da sua autoria, o acervo permanente deste museu apresenta também alguns objectos, de onde se destaca a máquina fotográfica Minolta Uniomat (fabricada em 1960) que pertenceu ao cineasta natural de Cernache do Bonjardim.
Recuando a 2014, a Câmara Municipal da Sertã promoveu o ciclo de atividades “Silvino Santos – Um regresso” com o intuito de homenagear este filho da terra e pioneiro do cinema brasileiro, até essa altura desconhecido pela maioria da população. Na ocasião, o programa incluiu uma exposição fotográfica, a exibição dos filmes “O Cineasta da Selva” e “No País do Amazonas”, o lançamento do livro “Silvino Santos – Um regresso” e a conferência “Silvino Santos – Um Pioneiro” com a exibição de fragmentos do filme “No Rastro do El-Dorado”. As atividades contaram com a presença de diversas personalidades ligadas ao cinema e à história como Márcio de Souza (historiador da Amazónia), Aurélio Michiles (realizador do documentário), Francisco Filho (realizador natural da Amazónia e dinamizador da obra de Silvino Santos), João Paulo Macedo (curador das exposições da Sertã e de Guimarães) e familiares de Silvino Santos.
Silvino Simões Santos Silva nasceu em Cernache do Bonjardim em 1886. Saiu do país muito jovem para o Brasil, onde chegou no dia 29 de novembro de 1900, data em que completava apenas 14 anos. Entretanto desenvolveu o gosto pela fotografia e os seus dotes valeram-lhe uma viagem até Paris, financiada por Júlio Cezar Araña, seringalista peruano. Durante a estadia na capital francesa passou pelos estúdios Pathé-Fréres e pelos laboratórios dos irmãos Lumiére, tomando contacto com as últimas novidades da fotografia e os primeiros passos do cinema. Mais tarde, regressa ao Brasil, fotografando e rodando algumas curtas-metragens na zona da Amazónia, financiadas por Júlio Cezar Araña. Silvino Santos filmou durante dois meses, percorrendo os rios e as terras de Araña, revelando os filmes em plena selva. Em 1914 realiza o seu primeiro filme que, a par do segundo, “Amazonas, o maior Rio do Mundo”, se perderam no naufrágio do barco que transportava os negativos para os Estados Unidos. Entretanto sedeado em Manaus, produziu o documentário sobre o Rio Amazonas e mais 12 documentários. Começou a trabalhar na Casa J. G. Araújo e, em 1921, estreou a sua primeira longa-metragem, “No Paiz das Amazonas” filmada inteiramente no rio que lhe dá nome. A película obteve bastante êxito no Brasil, chegando a ser exibida nos Estados Unidos e na Europa. Mais tarde, filmou “Terra Encantada”, no Rio de Janeiro, por ocasião da exposição comemorativa do Centenário da Independência. Seguiu-se “No Rastro do El-Dorado”, que retrata a viagem de Hamilton A. Rice na Amazónia e que alcançou novo êxito. Entre 1925 e 1927 desloca-se a Portugal para acompanhar o comendador Joaquim Gonçalves Araújo e a família. Nesta estadia por terras lusitanas, filmou 35 curtas-metragens documentais, que retratavam as diversas facetas do país, numa série intitulada “Terra Portuguesa”. A estadia em Portugal contemplou uma visita à terra natal, Cernache do Bonjardim, concelho da Sertã, ficando documentada no filme de 15 minutos “Sernache de Bonjardim”. Voltou ao Brasil e continuou a trabalhar, embora a sua carreira no cinema tenha sofrido uma paragem pela total dedicação à fotografia devido às funções que desempenhava na empresa de Joaquim Gonçalves Araújo, que foi o maior patrocinador da sua carreira. Para além dos trabalhos feitos no Brasil, foram feitos 35 documentários em Portugal originando os “Filmogramas” e as “Silvinadas”. A obra de Silvino compreendia no total oito documentários de longa-metragem, cinco de média metragem e 83 curtas-metragens.
Entretanto, o seu nome caiu no esquecimento até voltar novamente à ribalta pela mão do Grupo de Estudos Cinematográficos de Manaus. Foi homenageado ainda em vida, em 1969, na primeira edição do Festival Norte de Cinema (1969). Faleceu em Manaus, a 14 de maio de 1970.
Em 1997, o realizador Aurélio Michiles dirigiu o documentário “O Cineasta da Selva”, protagonizado pelo carismático ator brasileiro José de Abreu, que evocava a figura de Silvino Santos e fez crescer novamente o interesse pela obra do cineasta luso-brasileiro. Em 2012, a Guimarães – Capital da Cultura dedicou um ciclo a Silvino Santos, projectando alguns dos seus filmes e dinamizando uma exposição e conferência sobre a obra deste pioneiro do cinema brasileiro.
Em 2023, mais de cem anos após ter sido dado como perdido, o filme “Amazonas, o maior rio do mundo” reapareceu na Cinemateca de Praga, na Chéquia. Filmado por Silvino Santos em 1918, a película mostra uma viagem fluvial pelo Amazonas, onde surgem imagens de localidades como Belém, campos do Marajó, Santarém, Itacoatiara, Manaus e rio Putumayo.
Bibliografia:
Brito, E. (Ed). (2012). Silvino Santos – Um Europeu na Amazónia. Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura
Cultura do AM - Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa. (2025, 10 de janeiro) Exposição ‘Raízes da Amazônia: O Olhar de Silvino Santos’ está em cartaz no Museu da Imagem e do Som até 31 de janeiro. https://cultura.am.gov.br/exposicao-raizes-da-amazonia-o-olhar-de-silvino-santos-esta-em-cartaz-no-museu-da-imagem-e-do-som-ate-31-de-janeiro/
Costa, S. V., Souza, M., Michiles,A., Antunes, J., Macedo, J.P. (2014). Silvino Santos – Um Regresso, Think Forward Associação Cultural
Letria, M. (2024, 12 de dezembro). Amazonas Um rio imenso e incomparável que José Luís Jorge percorreu da nascente até à foz. Região de Leiria, (4578), 54,55.
Lopes, R. (2013). História da Sertã (1.ª edição). Câmara Municipal da Sertã
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