Ao longo da minha vida profissional, tenho trabalhado maioritariamente no sector têxtil – uma indústria na qual a nossa mestria e qualidade, no que à produção diz respeito, são inegáveis. Sabendo isso, entristece-me profundamente assistir à degradação que temos visto neste sector e faz-me questionar: Se somos bons, que realmente somos, como é possível estar isto a acontecer?
Nesta e noutras áreas económicas, criamos pouco valor. Vendemos muito, lucramos pouco. E isto reflecte-se nos baixos salários, na escassez de marcas próprias com identidades fortes, na dependência de grandes marcas ou intermediários estrangeiros que impõem margens apertadas. Estamos condenados à mediania industrial: trabalhamos para que os outros lucrem.
E há mais: já nem sequer podemos competir pelo preço. Durante anos, apesar da sua qualidade, Portugal foi um “país barato” da Europa para produzir — mas isso acabou. Os sucessivos aumentos do salário mínimo por decreto, desligados da produtividade real, tornaram impossível competir nesta dimensão, mas também não criámos condições para competir pelo valor.
Uma empresa que queira deixar de ser apenas uma subcontratada, dependente de produções em massa, com margens quase inexistentes, que se queira focar na diferenciação ou criar a sua própria marca, entra numa batalha inglória: a diferenciação pode ser um processo lento, exige planeamento, talento, comunicação e visão – tudo o que o “curto-prazismo” português não valoriza. Temos um sistema montado para premiar quem “vai fazendo”. Quando a fiscalidade é pesada, os custos de contexto absurdos e o Estado, como se costuma dizer na minha terra, “em vez de nos ajudar, ainda nos aventa” – quem tem margem para arriscar?
Poderíamos criticar a gestão das empresas, e não nego que, em muitos casos, é uma crítica justa, no entanto, a fraca capacidade de gestão e liderança que todos nós sabemos existir no mundo empresarial, é também fruto de um outro problema ainda mais pernicioso: Em Portugal, muitas vezes não vence quem faz melhor – vence quem melhor contorna as regras. Temos um sistema cheio de leis, mas com pouca fiscalização séria. Regras complexas que confundem, mas que não seleccionam pela excelência. E, assim, no meio da selva regulatória, vão à frente os que dominam o “jeitinho”, não os que arriscam fazer bem.
É aqui que se torna evidente o que falta na economia portuguesa: uma visão liberal consequente. Uma visão que diga, sem medo, que o problema de fundo é a ausência de liberdade para inovar, para competir com mérito e crescer.
Estes problemas não se resolvem com subsídios ou planos centralizados. Resolvem-se dando espaço a quem trabalha, reduzindo o ruído do Estado e confiando nas pessoas. As empresas não precisam de taxas, formulários e autorizações. Precisam de margem para investir, errar e tentar de novo, sabendo que não serão ultrapassadas por quem apenas domina os atalhos.
Claro que estas reformas não se fazem por decreto. Exigem coragem política, exigem abandonar o fetiche do Estado omnipresente. Se quisermos que Portugal deixe de ser um país que trabalha bem mas vive mal, precisamos de mudar o sistema onde as nossas empresas operam. Precisamos de menos Estado, mais liberdade económica – e mais responsabilidade também. Porque o problema nunca foi produzir. O problema é continuarmos a produzir… para que apenas os outros lucrem.
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